A escola se transforma ou morre

“Imagina que a gente fosse corajoso o suficiente para refazer esta escola, do jeito que a gente quisesse. Teriam lousas, turmas ou mesmo professores? Podem dar as ideias mais mirabolantes”. 

Esta provocação aconteceu durante a semana em que se planeja o ano letivo escolar, em 2017, para um grupo de mais de 30 professores. E não faltaram ideias mirabolantes.

Porém, conceber uma escola diferente da que existe é algo muito difícil, até pra quem sonha com isso, até para quem é inconformado e até para quem é criativo. 

A compreensão de uma escola está ligada à simples ideia de transmissão e aquisição de conhecimento. Além disso, há uma expectativa por resultados desumana sobre as instituições e sobre os estudantes. O que acaba por minar a criatividade, a produção de conhecimento autêntico e a alegria das descobertas.

As ideias do grupo envolviam modificação de espaços, liberdade de escolhas, horários flexíveis, áreas verdes, e mais um monte de coisas maravilhosas. Mas tudo isso não resolvia o problema do aprendizado. 

Gastamos centenas de horas em reuniões, de milhas aéreas visitando escolas pelo mundo, para descobrir que a solução não estava em nada exterior. Mas no estudante, o autor do aprendizado. 

Cada pessoa aprende de um jeito, a seu tempo, e é estimulado de uma forma especial e particular. Para acontecer um aprendizado efetivo, cada estudante precisaria ter a sua própria escola, concluímos.

Se fisicamente isto parece impossível, virtualmente poderíamos construir infinitas escolas, com tecnologia. Na prática mesmo, a questão agora consistia em eliminar barreiras: a seriação por idades, a classificação por notas, a fragmentação das disciplinas, o tempo de 50 minutos de aula. A aula. No lugar, uma nova organização e uma plataforma em que cada estudante conduzisse sua jornada, planejasse seus estudos e fosse avaliado por seus processos. 

Mudamos tudo. E agora?

No final do ano de 2018 comunicamos ao público que “nossa escola vai mudar porque acreditamos nisso, no aprendizado, na autonomia, no futuro, etc”. Algumas pessoas vibraram com a notícia, outras abandonaram o barco. A diminuição foi significativa e impactante, mas, de certa forma, boa para a implantação. 

Véspera do início das aulas de 2019, domingo à noite, o celular vibra, notificação no grupo dos professores: “alguém aí está nervoso?”, perguntou um deles. Seguido de emojis de desespero e uma enxurrada de respostas excitadas. 

A expectativa para este dia era tanta, um mix de pavor e de euforia. Os alunos iriam chegar, abrir seus computadores e trabalhar? O projeto tinha previsto todas as possibilidades de erro?

A resposta não demorou a chegar: silêncio no ambiente. Andávamos pelos corredores e víamos cada aluno entretido com a sua Colmeia, como chamamos nosso sistema. A atmosfera de concentração perdurou e nos acostumamos, mas nos primeiros dias dávamos pulos de alegria. Puta coragem!

A experiência educativa tem sido frutuosa. Os professores assumiram três papéis bem definidos: de oficineiros (no momento coletivo em que oferecem cursos temáticos), de mestres (no momento em que orientam e avaliam projetos) e de tutores (momentos de reunião de suporte aos seus tutorandos). Com a dinâmica, conseguimos desburocratizar a maior parte dos processos escolares que tomavam quase todo o tempo. Há mais trabalho para todos, mas mais inteligência e criatividade. E descobertas.

Updater: André Medeiros

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