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A menina que foi mais perfeita que o painel de notas
1976. Uma magrelinha de 14 anos chamada Nadia respira fundo e salta em direção às barras assimétricas no ginásio Olímpico de Montreal.
Alguns segundos depois, num rodopio, aterrisa com os dois pés no chão e encerra a mais bela sequencia feita por uma ginasta em toda a história das Olimpíadas.
O painel mostra sua nota: um.
Ninguém entende nada.
Na verdade, o placar não possuia dígitos suficientes para mostrar o 10 que ela tinha acabado de receber.
Nem o painel, nem o mundo estavam prontos para a perfeição de Nadia Comaneci, que depois ainda humilharia a ineficiência das luzinhas do placar mais 6 vezes, completando 7 notas máximas.
Fez o que ninguém tinha feito, ou previsto.
Sete vezes.
O próprio sistema de avaliação e de notas utilizado pelos juízes na ginástica olímpica até então, precisou ser revisto e modificado.
Mas na verdade, acho que o verdadeiro motivo para Nadia Comaneci ter se transformado no grande ícone Olímpico de todos os tempos não foram apenas suas impressionantes notas.
O que impressionou o mundo foi a facilidade com que os movimentos eram feitos e encaixados numa sequência sem intervalos, sem bufadas, sem hesitaçãoes como faria de fato uma menina brincando em cima de um muro no quintal ou pulando de um galho para o outro em uma árvore.
Tanto é que inventou e enfiou movimentos novos em suas apresentações, e que hoje foram incorporados no esporte.
Resolvi escrever esse post porque estive hápouco tempo nesse mesmo ginásio onde Nadia se consagrou campeã absoluta e porque estou acompanhando as ginastas agora em Londres.
Claro que o grau de dificuldade de hoje é muito maior. Se eram 2 piruetas, agora são 3. Se eram 3 giros, agora são 3, invertidos. Todas as atletas, impressionantes.
Mas o preço dessa evolução parece ser uma certa perda da fluência dos movimentos e das emoções. O esforço exije muita força muscular e disciplina. E aí a gente acaba assistindo, por exemplo, aquelas rotinas de solo com umas dancinhas esquisitas, meio duras, com caras de mau alternadas com sorrisos forçados, um rebolado robotizado, feito por meninas fortes pacas.
Lembro que o Guga, do tênis, sempre dizia que abandonaria o esporte o dia que parasse de se divertir em quadra. Chegou como um Zé ninguém em Paris e enquanto as pessoas começavam a se perguntar quem era aquele cabeludo com aquelas roupas horrorosas, o cara foi lá e, se divertindo, ganhou Roland Garros. Feito que também repetiria outras vezes.
Nadia, Guga e tantos outros por aí parecem mesmo seguir aquele antigo ditado:
“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez”.
Abaixo, uma entrevista com Nadia Comaneci, hoje com 50 anos. Ela conta, entre outras coisas, como foi “descoberta” no parquinho da escolinha primária, dando umas piruetas e estrelas.
Updater: Wagner Brenner
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