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A Revolução precisa de um update (papo com Yoani Sánchez)

Texto, fotos e vídeos por Rafael Neves. Publicitário que esteve em Cuba e não comprou uma camiseta do Che.

Com a viagem a Cuba ainda fresca na cabeça, – estive lá em novembro último – acompanhava com interesse a visita da célebre blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil quando fui convidado para representar o UoD em um evento na Livraria Cultura. Como bom curioso fui conferir.

Concorde ou não com ela, impossível negar que Yoani é corajosa.

Desde que chegou ao Brasil foi alvo de grupos ditos esquerdistas e teve que aguentar – sorrindo – uma saraivada de insultos e palavras de ordem forjadas ainda quando Camilo Cienfuegos e Che Guevara eram vivos.

No evento da Livraria Cultura não foi diferente: enquanto havia apenas credenciados, o papo estava leve e civilizado, assim que liberaram a entrada para o público em geral, o evento – bem mediado pela jornalista Barbara Gancia, que tentava organizar a bagunça em vão – foi interrompido por uma gritaria sem sentido, recheada de delírios conspiratórios. Além do anacronismo do discurso, o pessoal supostamente comunista que foi atazanar a Yoani se mostrou pouco educado. E não quero aqui ridicularizar o finado comunismo ou satanizar os irmãos Castro; creio que estes temas já foram debatidos em searas mais pertinentes.

Mas o que é que a cubana tem? Por que diabos a frágil Yoani chama tanta atenção por onde passa? Por si só, uma moça magra que não corta os cabelos enfrentando de peito aberto os barbudos de Havana já é algo digno de interesse. Pense também: o epíteto “blogueira cubana” é tão inusitado quanto “pivô de basquete anão” ou “cientista evangélico”. Somando a isso, Yoani carrega consigo um semblante misterioso, discurso fluente, voz firme e uma estranha beleza esquálida. Não é à toa que foi logo adotada pela imprensa ocidental anti-Castro.

O mercado de trabalho para blogueiros não é muito fácil em Cuba. As dificuldades de escrever um blog por lá já começam pela restrição à principal ferramenta de trabalho da atividade: a internet. E se você resolver escrever algo que vá contra os ideais da Revolução de 59, certamente terá dores de cabeça maiores que conseguir passar o mês com uma magra caderneta de racionamento.

A presença de Yoani Sánchez e sua tour para arrecadação de prêmios fez ressaltar o fascínio que a linda ilha de Cuba ainda exerce no mundo – e não é por causa dos mojitos, daiquirís e charutos. Mesmo tendo perdido grande parte da relevância a partir do início da década de 90, é de se espantar que Cuba ainda deixe as pessoas tão à flor da pele.

Em conversas com os locais, senti bastante ceticismo em relação a grandes mudanças no país, pelo menos enquanto Fidel ainda estiver vivo. Para muitos cubanos, Fidel dies/Cuba updates. Mas eu gosto de acreditar que a permissão de viagem à Yoani seja um sinal para o mundo que as coisas vão mesmo mudar.

Sendo obrigada a lidar com os novos tempos e figuras como Yoani, não resta dúvida que a Revolução precisa de um update.

Com a palavra, Yoani Sánchez, em depoimento exclusivo para o Update or Die ;-)

Updater: Gustavo Giglio

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