Álbuns para descobrir: Minha cara, de Dani-Vie

Talante é um sinônimo para gosto, prazer, vontade ou desejo. A rima com cintilante também serve para definir “Minha Cara” (2023, Independente), o primeiro álbum de Dani-Vie, com a produção musical de Barro e Guilherme Assis. Já na segunda faixa, “Talante”, a cantora pesca do romantismo de uma tarde na praia a simplicidade de um amor de verão. Liniker participa da canção. E a imagem do encontro da voz suave de Dani-Vie com a imponência grave de Liniker, gera uma imagem que acompanha o disco inteiro: é água doce e salgada; o desejo puro e o desejo maduro; a sedução arisca e a que também precisa de paz para não se perder. 

“Fico Fácil”, logo em seguida, é esperta justamente para traduzir essa sensação de algo pra ser ser jogado. “Libidinosamente, esbarramos sem querer e silêncios de promessas que fazemos sem dizer”, é um verso que tirou um temperinho de salsa brasileira para reforçar o axé que ampara todo o trabalho. Dani-Vie é baiana. E não empurra essa característica para dentro da sua música como uma marca comercial, e sim como uma das razões de fazê-la.

O álbum também se influencia pelo Ijexá, reggae e um pagodão baiano mais doce. Há uma interpretação cheia de personalidade para “I Miss Her”, do Olodum, com DJ Ubunto. Outra parceria do disco pode ser ouvida em “Tá Tudo Bem”, com o cantor e compositor pernambucano, Martins. Essas composições são interessantes por um ponto em comum: as participações não impregnam Dani-Vie, ela não absorve o estilo do convidado. Em vez disso, mantém as suas características acentuadas, vivas, se mesclando ao outro em favor da identidade da composição. É algo difícil de fazer bem em um primeiro trabalho, especialmente se você divide o microfone com alguém musicalmente tão forte quanto a Liniker. 

O passeio de Dani-Vie neste dia na praia ainda mostra outra boa canção, “Lalá”. Inspirada na sua relação com a capital baiana e no Dia de Iemanjá, a música foi criada pela própria artista em parceria com Barro e Luiz Gabriel Lopes e foge do óbvio. É uma faixa dançante, festiva. Se o ritmo levinho, ainda que seja possível ouvir algum groove, deixe “Lalá” em uma zona segura, também reforça a unidade do arranjo de voz e do trabalho instrumental do álbum.  

“Minha Cara” não mostra o que Dani-Vie é, mas sugere sobre o que ela gosta, sobre o que lhe dá prazer e o que tem vontade. Para seus “cachos de dendê” não existe sinônimo certo, mas para a alegria de sua música há uma palavra já posta: talante. 

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