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As coisas não são o que conseguimos ver

[su_heading size=”21″ align=”left” margin=”0″]Desde sempre somos levados a acreditar que as coisas são por que são, sem haver a necessidade de ir à fundo.Somos “talhados” em um sistema onde o novo é tido como errado, e que as coisas chegam até nós como um bolo já pronto.Precisamos desconstruir esses conceitos, entender os processos de maneira individual, a fim de que tenhamos nossos próprios conceitos sobre tudo, pois as coisas não são o que conseguimos ver.[/su_heading]

Nessa manhã abafada de sábado, apesar de querer estar dormindo, dei mais uma daquelas paradas súbitas em que deixamos nosso corpo estagnado em tudo que estamos fazendo, permanecemos olhando para um lugar fixo, porém, sem enxergar nada, e nosso eu interior passa a dominar, anulando as ações da casca.
Sempre que isso acontece, adentro por inteiro (durante os outros momentos apenas partes entram), em uma das casas existentes no interior, onde, depois da porta, existem paisagens, sons, vida, e observatórios domundo externo. Nessa oportunidade, observei com questionamentos o fato das coisas serem elas e não outras, estabelecendo, dessa forma, conceitos que, dependendo de alguns determinantes, são variáveis, mas nunca ausentes nos grupos sociais.
Muitas vezes temos a falsa sensação e conhecimento empírico de que linguagem trata-se apenas do idioma oficial de alguma região, além da visual e sonora, que são as mais presentes em nosso cotidiano. Contudo, afirmo sem medo que tudo, isso mesmo, tudo comunica.Sendo assim, tudo é linguagem. Isso se deve ao fato de que toda linguagem é, antes de tudo, formada por signos que são processados pelas engrenagens interiores do interpretante, gerando ou não comunicação. Segundo Peirce, a linguagem está no mundo, e nós estamos na linguagem.
Tudo acaba passando por tríades, e nisso a semiótica me cativa. Em sua análise mais superficial, a semiótica se estrutura em três pontos: Objeto; Signo e Interpretante. Essa arquitetura nos permite analisar tudo, e entender que tudo comunica, ou seja, é linguagem e, consequente a isso, comunicação. Gostaria de deixar uma observação que é feita após entender esse fato: Se tudo comunica, mas a grande parte das pessoas não percebe e/ou não consegue entender isso, tenho mais uma afirmação para a tese de que os verdadeiros sentidos estão sendo perdidos, sendo que as pessoas estão olhando com as aberturas da casca que dão o acesso mais raso à aura humana, ou seja, o ser que vê por de trás das janelas. Quero dizer que as pessoas olham com os olhos, ouvem com os ouvidos, falam com a boca, tocam com a mão, mas se esquecem de que essas partes não são reais, não são elas quem sentem, massimo eu. Prova disso é o fato pós-morte. Uma casca morta pode tocar em muitas coisas, mas não sentirá nada. Alguém pode manter seus olhos abertos durante todo o tempo que ela tiver antes de apodrecer, mas ele não verá nada! Contudo, como já disse, existem alguns determinantes que podem e variam de acordo com pessoas e fazem com que as percepções sejam diferentes. O principal desses fatores é a cultura onde o indivíduo interpretante está inserido. Um exemplo claro para isso são as diferenças entre a cultura oriental e ocidental. Para nós, ocidentais, um signo de luto é o preto, para eles é totalmente o inverso, sendo o branco utilizado no luto. Uma vaca para mim significa fonte de alimento, mas para os indianos, significa um deus. E essas interpretaçõesvão de entender um vento como sinal de chuva, até um rastro com índice de que algum animalesteve por ali.
Contudo, acredito que as coisas não são de fato o que vemos, mas sim algo que ainda não se pode alcançar, senão no interior de onde essa se formou. Com já dizia Walter Benjamim, existe uma áura das artes (e eu digo que de todas as coisas) que não pode ser reproduzida, logo, o que conseguimos ver como observadores de algo são apenas sombras do objeto original. Uma música, por exemplo, não é ela em si, mas fragmentos do que foi concebido no interior do compositor. Isso também se explica por meio da semiótica, quando pensamos nos conceitos de Primeiridade, Secundidade e Terceridade.Quando o compositor concebe a música em seu interior, ainda sem formato legível algum,masapenas como sentimento, configura-se a primeiridade, ou seja, o primeiro sentimento, que se pensado, já deixa de ser primeiridade, mas para fazer sentido, é preciso gravar o que se concebeu em algo que torne possível expressar, então o compositor utiliza o seu instrumento, e nisso percebemos a secundidade (tornar o que antes era interno em algoexterno), mesmo assim, agora é necessário transcrever a música de alguma forma para que todas as culturas entendam, ou seja, é preciso torna-la convencional, escrevendo uma partitura, por exemplo, e aí se dá a terceiridade.
Sei que já fugi do tema principal. Mas o que quero dizer com tudo isso é que o azul seu pode não ser azul para mim e muito menos para uma pessoa cega segundo os conceitos pré-estabelecidos, visto que esse “cego”também enxerga. Na verdade,eu acredito que os cegos dos olhos da casca conseguem enxergar melhor do que nós mesmos, que nos dizemos normais. Digo isso baseando-me no fato de que eles não são atrapalhados pela janela durante a observação de algo, mas enxergam somente com o ser. Assim eles conseguem chegar mais perto da áura da beleza, por exemplo. Contudo e infelizmente, não são todos que pensam dessa maneira, mas ao contrário.O homem sempre quer ter o poder em mãos, e tendo ele, definir o que é bom e/ou ruim, certo e/ou errado, bonito e/ou feio para todas as pessoas. Aí entra a questão que me prendeu nessa manhã “Por que as coisas são o que são, mas não são outras?”Está aí, elas na verdade não são, mas no contexto de sociedade massificada e de um monopólio que indica os conceitos, as cosias são por que os poderosos dizem que elas são. Não obstante a isso, a questão já se tornoucultural, se tornando uma verdade quase que incontestável até mesmo aos presos nesse sistema. É por isso que grandeparte das pessoas que me ouvem falar sobre essas coisas me acha estranho e não suportam 15 minutos de conversa. É como a caverna de Platão, alguns veem o brilho do sol (mas nunca o sol em si, visto que é a aura), mas quando voltam para contar aos aprisionados, são taxados de louco. Eu já me adaptei com isso. É loucura? Que ela me consuma!
Caminhando assim, somos levados a acreditar que tudo é por que é. Somos impulsionados a ser meros coadjuvantes no longa da vida. Somos induzidos a sentar e deixar que nossos óculos se encham de poeira, para que aí os ditadores desenhem em nossas lentes a paisagem que eles bem entenderem, nos fazendo acreditar que tudo aquilo é real, quando estamos sentados em poltronas, vendo a vida por um projetor, enquanto nossos músculos são atrofiados (sim, lembrei-me de pão e circo).
O que me anima é encontrar pessoas, normalmente jovens, que, como na pós modernidade, decidiram dizer não para as ações pré-definidas que pensam apenas no “bem”do grande grupo, que na verdade trabalha apenas para sustentar o império de uns, e decidiram expressar-se, manifestando o que suas máquinas interiores processam e entendem à partir das linguagens presentes no mundo. Jovens que não dizem para as crianças ainda nas escolas que pintar a árvore de vermelho está errado, pessoas que não enclausuram cores em conceito de masculino e feminino. Como no nascimento das néo-tribos, pessoasque se unem envolta de suas crenças afim de defender seus pontos de vistas, mas, sobretudo, pessoas que se dispõe a tirar seus óculos (que são impostos pela massificação), experimentar outros, que os permitem ver tudo e todos com outras formas e cores que não aquelas que eles estavam adaptados.
Enfim, não podemos viver no “deixa a vida me levar”, mas devemos nos posicionar como indivíduos, sabendo que não somos o que se pode ver com os olhos (órgão), mas aquilo que se encontra escondido onde nada humano pode tocar e/ou ver. Buscar entender e se perguntar “Por que a mesa é mesa e não copo?” “Por que isso é certo, e aquilo é errado?” “Por que isso é bonito, e aquilo não?”
Nós precisamos desconstruir o bolo pronto e analisar as partes de forma individualpara que possamos entender as coisas à partir da nossa visitação às mesmas, e não mais à partir do que nos dizem desde sempre. Afinal, um tubo de aço pra nós é um avião, para algumas pessoas isoladas podeser um grande pássaro de aço, para um cego, o que será? E para um pássaro? E para um cego? Todos veem, mas poucos enxergam.
Updater: Do Leitor
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