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Como o neonomadismo digital pode redefinir o futuro do trabalho

Minha experiência com o trabalho remoto começou em 2008. Natural de São Paulo, na época morava no Rio de Janeiro e me preparava para fundar a minha primeira startup. Um dia, conversando com meu cofundador, cheguei à conclusão de que eu não precisava estar no Rio, ou em qualquer lugar específico, devido à natureza digital da startup que estávamos prestes a fundar. Me mudei então para a cidade de Paraty, e de lá operei por vários anos a nossa empresa, além de prestar consultoria para diversos projetos locais e de fora. De lá pra cá, morei em seis cidades e viajei por mais tantas outras, de Amsterdam a Bangkok, de Delhi a Lisboa. O nomadismo digital me mordeu, virou um estilo de vida e mostrou que é possível desenhar o meu cotidiano incorporando trabalho, propósito e aspirações pessoais.
Escolhi começar nossa conversa aqui no Update Or Die contando um pouco sobre minha experiência pessoal porque ela diz muito sobre quem sou hoje. E também porque acredito que isso possa ser útil de alguma maneira para quem, neste momento, também esteja pensando em trilhar um caminho diferente, com um modo de viver mais flexível e móvel. Para construir uma jornada desse tipo, o primeiro passo é refletir sobre algumas questões: que estilo de vida você deseja ter? O que faz sentido para a sua existência? Como você se enxerga neste mundo acelerado, complexo e fluido? Essas perguntas, além de funcionarem como um exercício importante de autoconhecimento, dizem muito sobre os desejos e as angústias do tempo em que vivemos, especialmente com a pandemia. O futuro parece ainda mais incerto e precisamos de novas lentes, super lentes, para nos ajudar a enxergar com nitidez o mundo à nossa volta e, assim, nos preparar melhor para o que vem por aí.
Pensar sobre isso se tornou ainda mais importante porque a pandemia, novamente ela, está funcionando como uma aceleradora de futuros, antecipando mudanças na sociedade que talvez só acontecessem de verdade daqui a cinco, dez ou mais anos. Essas mudanças incluem o trabalho remoto e a transformação digital das empresas, questões que já estavam em curso e se consolidaram durante a quarentena – chegando para ficar.
Neonomadismo digital
Diante desse quadro, o que muda na vida de profissionais criativos independentes, os que já são ou que estão se tornando agora? Que mundo será esse que se desenha para o pós-pandemia e como se preparar para ele? Faço a seguinte reflexão: ainda que estejamos vivendo uma crise mundial sem precedentes, acredito que existam boas perspectivas para quem busca construir uma carreira independente, adotando um estilo de vida com o qual se identifique, seguindo um propósito pessoal e desenvolvendo um novo olhar para a sua própria trajetória.
Com o avanço do home office, o nomadismo digital ganhou outra dimensão. A desmaterialização do trabalho, já em andamento, nunca esteve tão em evidência. Some-se a isso o fato de que a tecnologia hoje é muito mais potente do que há cinco anos, quando o termo nômade digital começou a fazer parte do vocabulário. Hoje, um estilo de vida móvel e flexível, que é o sonho de muita gente, é totalmente viável. Tanto que neste exato momento muitas pessoas estão trabalhando normalmente dos mais variados lugares, como eu, que estou em uma cidade costeira no sul da Bahia. Boas-vindas ao neonomadismo digital!
Essa realidade que agora salta aos olhos parece ser a comprovação daquilo que Tsugio Makimoto e David Manners previram no livro Digital Nomad, de 1997, quando escreveram que as “redes sem fio de alta velocidade e dispositivos móveis de baixo custo quebrarão o vínculo entre ocupação e localização”. Chegamos a um pontoem que é possível pensar que o neonomadismo digital vai redefinir o futuro do trabalho. Isso porque, com o 5G batendo à porta, essa tendência vai se acentuar, movendo ainda mais a nossa vida para nuvem e rompendo de vez as fronteiras geográficas.
Formação de comunidades
Essa ampliação do anywhere office abre inúmeras oportunidades tanto para quem contrata como para quem é contratado, mudando de forma significativa a dinâmica das relações de trabalho. Para as empresas, o endereço da pessoa passa a ser indiferente, e assim elas podem ampliar sua rede de colaboração, apostando na diversidade das equipes, trabalhando com profissionais que podem estar em qualquer lugar do mundo e trazendo novos olhares, culturas e experiências. Para quem atua de forma independente, há o ganho com mobilidade, flexibilidade e também oportunidades e condições para formar redes de trabalho poderosas e descentralizadas – isso é fundamental para trazer segurança financeira, mas esses temas (networking e finanças) eu vou tratar com mais detalhes em outros artigos aqui na coluna.
Nesse contexto, a conexão a uma comunidade de profissionais independentes não é só uma tendência, mas um instrumento importante para o novo tempo que vivemos. Veremos cada vez mais a formação de ecossistemas de colaboração e compartilhamento de aprendizados e negócios, que ajudarão a viabilizar um estilo de vida mais leve, flexível e com o qual nos identifiquemos verdadeiramente.
Updater: Karina Rehavia
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