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Da criação à criatividade: a diferença entre reconfiguração, releitura e referência

O modelo de convivência social atual gira em torno da internet, onde diariamente é criado e consumido uma grande quantidade de informação online, em forma de texto, imagem, vídeo e som. Seus usuários estão em constante contato com diversos materiais disponibilizados através da internet, que acabam influenciando sua forma de pensar e interagir com o mundo, e que eventualmente servem de matéria-prima para suas criações.
Para melhor entender essa dinâmica, é necessário compreender primeiro o ambiente em que se encontram esses materiais e como seus usuários se relacionam, e posteriormente a dinâmica da Criatividade e do processo criativo.
CULTURA DA CONEXÃO
Um desses ambientes, a internet, tem se mostrado propício para esses três tipos de manifestação, uma vez que a difusão da informação dentro da internet é intensa, o que já alterou a forma com que as pessoas interagem.
De acordo com Henry Jenkins, autor da expressão e do livro “Cultura da Conexão”:
Aquilo que não se propaga, morre.
Ele analisa que a cultura está caminhando para um modelo mais participativo, onde os usuários não são mais meros espectadores e consumidores de conteúdo, e sim, agentes de criação de valor e significado. Por causa dessa mudança, as empresas tiveram que mudar a fora com que se comunicam, a fim de melhorar a relação com seus consumidores. Os usuários têm o poder de propagar ideias e opiniões, e os setores de Marketing, Publicidade e Propaganda, principalmente, tiveram que se readequar a essa nova realidade.

A Curva da Difusão da Inovação, proposta pelo sociólogo Everett M. Rogers em seu livro Diffusion of Inovations (1962), aponta que a influência e tomada de decisão dos usuários mudou drasticamente. Antes, as empresas focavam na maioria (Early e Late Majority), que compunham a maior parte dos consumidores. Com a Internet, o foco das empresas precisou se alterar para aqueles que realmente são abertos ao novo (Innovators e Early Adopters). Isso mostra que, uma vez que os usuários podem se comunicar entre si, trocam informações e comentários sobre produtos e serviços.
Com essa crescente força de opiniões por parte dos consumidores, cresceu também a ideia de personalização, onde os próprios usuários contribuem com produtos e serviços que melhor se adequam à necessidade de cada grupo social. Se algo não existe ou não está disponível, ou por sugestão ou necessidade da maioria, pessoas se juntam a fim de tornar realidade àquilo que precisam para solucionar seus problemas ou saciar suas necessidades.
01. Criatividade
A palavra Criatividade é normalmente associada a uma epifania, mas também pode ser aplicada à solução de problemas, bem como ao ato de criação em si. Criatividade é a habilidade mais humana que existe, uma vez que só homosapiens são dotados dessa capacidade. É uma linha tênue entre o instinto e o raciocínio, onde muitas vezes somos guiados pela intuição e pelo pensamento abdutivo, o pensamento que trabalha com possibilidades.

Já a criação faz referência ao que já se possui de informação, uma vez que o processo de aprendizado humano sempre é baseado em informações que já existem, que já foram descobertas ou inventadas e, através do raciocínio cognitivo, essas informações são somadas e/ou combinadas entre si, gerando algo novo.
No inicio dos anos 1920, dois pesquisadores da Universidade Columbia, William Ogburn e Dorothy Thomas (Are Inventions Inevitable?), publicaram uma lista com 148 invenções independentes, que chamaram de múltiplos, onde a maioria das quais ocorreram na mesma década. Eles perceberam que as invenções foram construídas com partes de ideias já existentes, cuja combinação se expande (e, às vezes, se contrai) ao longo do tempo. Algumas dessas partes são conceituais, como maneiras de se resolver um problema. Outras são, literalmente, peças mecânicas.
02. Reconfiguração
A reconfiguração propõe que todos os elementos existentes previamente continuarão presentes, porém em uma nova função, disposição ou sequência.
Um ótimo exemplo de Reconfiguração são os memes, que por si só já possuem um significado, que é reconfigurado dependendo da mensagem que se deseja passar. A Reconfiguração é o tipo mais encontrado na internet, uma vez que nem todos os usuários dominam alguma ferramenta, software ou habilidade artística, mas mesmo assim precisam se comunicar. Dessa forma, acabam reconfigurando elementos já prontos para construir suas mensagens.
03. Releitura
A Releitura pode ser interpretada de forma onde o criador, baseado em seus conhecimentos prévios e influências adquiridas, propõe uma nova visão sobre algo já existente. Esse tipo de manifestação é comumente encontrada em filmes, músicas e artes.

A Releitura é parecida com a Referência, porém seus elementos são reduzidos, onde podemos rapidamente identifica-los. Obras de arte que utilizam o traço evidente de algum artista, por exemplo, é uma forma de Releitura; muito comum no Youtube, a música cover também é.
Abapuru, de Tarsila do Amaral misturado com a arte de Romero Britto
04. Referência
Dentre as três formas, a referência é a mais complexa. Nela, podem estar subentendidos diversos elementos que acompanharam o criador durante sua vida toda.
A Referência pode ser uma simples palavra, uma frase ou todo um projeto, dependendo única e exclusivamente do significado que aquilo tem para o seu criador, bem como, o seu uso na criação. A Referência pode também ser interpretada como inspiração, lugar de onde se tira ideias para se criar algo.
Exemplificar a Referência seria bem complicado, uma vez que praticamente tudo a envolve. Sendo assim, compartilho o documentário de Kirby Ferguson, Everything is a Remix, que conseguiu colocar de forma clara e interessante como nos relacionamos com a Referência.
Em sua palestra do TED podemos conferir, de forma resumida, seu documentário, com alguns exemplos diferentes.
Com isso, podemos concluir que a criação passa por três etapas básicas:

Os padrões da Criatividade se repetem, dependendo apenas de como cada um os combinam. Esse padrões disponíveis podem ser das mais variadas formas, mensagens e conceitos, mas necessariamente precisam sair de algum lugar onde já existam.
O maior erro durante a criação é pensar que precisa reinventar a roda, quando todos os materiais que precisamos já estão disponíveis.
Updater: Do Leitor
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