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Desenhando para você entender (entre o realismo e o gráfico)

Existem as coisas.E existem as representações das coisas.

Por exemplo, existe o cachorro.E existem as coisas que representam um cachorro: um desenho, uma foto, um símbolo, uma mímica, um gesto, uma atuação, uma palavra.Umas mais realistas, outras menos (a foto é mais realista do que o desenho).

E qual você acha que representa melhor o cachorro? A foto ou o desenho?

Muita gente acha que quanto mais próximo do original, melhor. Afinal, quanto mais parecida for a representação do cachorro, mais fácil entender que se trata de um… cachorro.A resposta é: se for o Rex, sim. Mas se forem todos os cachorros do mundo, não.

Eu explico.

Realismo ajuda a individualizar. Símbolos ajudam a conceituar.Se você perdeu o seu querido Rex, nada como um cartaz com a foto dele. Mas se você quiser fazer uma placa de “proibido cachorros” no seu jardim, essa mesma foto pode não não ser a melhor escolha.

Assim ó:

A imagem da esquerda é o “João”. A da direita é uma “pessoa”.O da esquerda é uma pessoa, o da direita é qualquer pessoa.

Por que acho isso interessante?

Porque conversar por imagens (representações) é bem mais rápido, prático e divertido. Dizem que valem por pelo menos mil palavras. E são universais, funcionam para você e para o chinês do outro lado do mundo. Melhor que o tal de sânscrito.

E porque essas representações por imagem vão ser cada vez mais presentes na sua vida por causa do coisês (a lingua em que as coisas falam com você). Principalmente, nas interfaces (que por sua vez, serão embutidas em tudo quanto é canto).

Dá uma olhada lá no alto dessa página, onde você coloca os endereços dos sites no seu navegador.Tá vendo uma casinha lá?

É uma representação de um conceito (home) e não de uma casa daquelas de tijolo e cimento, que a gente constrói para morar dentro.

Realismo aqui, confunde.

Bom, então é só deixar o mais simples possível!

A-há! Muito bem, você acaba de chegar no ponto mágico.

Porque agora você vai descobrir que simplificar demais, também confunde. Ou seja, não é uma regra. É uma linha, um dimmer.

A home agora virou uma seta para cima.

E aquela ridícula portinha, mais um quadradinho-chaminé, que são as únicas diferenças entre uma e outra, são os detalhes que fazem você querer um bom designer, um bom diretor de arte.

Logotipos são tão fascinantes de se fazer (e olhar) por causa disso. São conceituais e criativos ao mesmo tempo.

Muitos até escondem suas ideias só para brincar de “decifra-me ou devoro-te” com você.

E se o conceito – pumba! – aparece em um estalo para você, é como se você entrasse para um pequeno clube dos que tem “olhos de ver”.

Saber andar nessa linha, e saber achar o ponto exato entre o realismo (ou mesmo o realismo fantástico das photoshopisses dos anúncios) e o sub-realismo (os símbolos das interfaces e placas), é uma arte.

Qual representação de bipolar é mais legal?

Enfim, lendo assim parece óbvio, mas experimente observar as representações que você encontrar pelo seu caminho hoje.

Pense se ela poderia/deveria estar um pouquinho a mais, ou um pouquinho a menos nessa linha mágica. Certamente você vai se divertir e se surpreender com essa experiência.

Pegue seu celular, olhe os ícones. Dava para ser mais? Dava para ser menos?

Tá no shopping? Veja as marcas, as propagandas, os logos das lojas.

Na tela do seu computador? Veja as as janelinhas. Repare que, apesar de serem elementos gráficos, as sombrinhas realistas fazem as telas flutuar, para você saber qual está selecionada.

Os botões também são gráficos, mas volumes ajudam a entender os estágios de “clicado” e “não clicado”.

Enfim, as coisas não são tão óbvias quanto parecem, as vezes real e gráfico co-existem. As vezes é o meio-termo a melhor opção.

Pense nessa linha entre o real e o simbólico.

Descubra como os designers conversam com você através das representações. E fique fluente em coisês, é uma viagem sem volta.

O assunto não é coisa apenas de designer, é legal ver como seu cérebro interpreta as coisas.

Até as crianças de prézinho viajam nesse conceito. Começamos desenhando conceitualmente (até vir um adulto chato e começar a “ensinar a desenhar mais caprichado”).

Se você se interessou pelo assunto, vá atrás de isotype,  Otto Neurath, pictogramas, ideogramas, pinturas rupestres, uncanny valley, etc.

Veja como um “C” pode virar uma lua na sua cabeça. Ou vice versa.

E porque Deus (ou o diabo) mora nos detalhes.

Updater: Wagner Brenner

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