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“Direto de Washington” diz muito sobre Olivetto, mesmo sem falar sobre ele

Washington Olivetto é a figura publicitária mais importante da história do Brasil. Foi o primeiro popstar vindo desse mercado e o primeiro a ser digno de manchetes da grande mídia pelo interesse do público, não pela política dos veículos. Como no futebol, uma de suas grandes paixões, a discussão sobre ainda ser o melhor é subjetiva, mas não há dúvidas sobre ser o maior. “Direto de Washington”, sua autobiografia lançada este mês, reforça tudo isso com muitos fatos e, claro, um conteúdo que vende bem o principal produto desse briefing: ele mesmo.

Antes de tudo, vale dizer que um editor mais ranzinza questionaria classificar o livro como biografia. Ao contrário do que costumamos esperar em obras do gênero, Olivetto conta pouco da história pessoal, da infância, da família ou de passagens cruciais que não envolvem a publicidade – como o famoso sequestro, em 2001, quando passou 53 dias nas mãos de bandidos. Porém, por meio de passagens relevantes e de curiosos bastidores de campanhas emblemáticas, entre tantas outras experiências sociais e profissionais que a atuação lhe proporcionou, traça um resumo concreto de sua personalidade.

O livro é um fiel documentário do CNPJ de Washington, com boas pitadas de CPF – como se espera de um ícone publicitário, deixando o trabalho falar por sim, mas não perdendo a carona. Sua história passa pelos causos de campanhas memoráveis como as de Guaraná Taí, Valisére, Bombril, Unibanco, Folha de S.Paulo, O Boticário, Rider, Staroup e tantas outras, bem como suas andanças pelo mundo e conexões interpessoais com celebridades dentro e fora da indústria, graças ao sucesso como criativo desde muito cedo. Seu começo na Lince, onde ganhou um Leão de bronze com seu primeiro comercial escrito na vida, para Deca; seu brilho na DPZ, na clássica dupla com Francesc Petit; o empreendedorismo da W/GGK, ainda jovem; o sucesso estrondoso da W/Brasil; e o mais recente e ainda atual desafio, mesmo de Londres, no casamento com a McCann (aqui no Brasil unindo a tradicional rede com seu W, na WMcCann).

Por ter uma única figura como fonte, escriba e redator publicitário, “Direto de Washington” traz boa dose de autoelogios. Como um Cristiano Ronaldo, brada por muitas vezes um “eu sou foda”, porém de forma bem mais elegante e com a consciência limpa de quem fala e faz. Talvez a maior diferença entre ambos é que o gajo foi moldado para jogar futebol, enquanto o brasileiro é mais Messi nesse sentido. Além disso, Cristiano sabe que, não importa o quanto se esforce, nunca será o maior de todos os tempos. Washington tem consciência de que pode ser ultrapassado, mas não deixa de colher os louros de ainda ser Pelé.

Entre a falta de detalhes do “Olivetto pessoa física” e algumas repetições insistentes (como ter sido ganhador do primeiro Leão de ouro do Brasil em Cannes com “Homem de 40 anos”, entre outros prêmios e méritos), “Direto de Washington” tem um enorme valor histórico e de repertório não só para quem trabalha com comunicação, mas para qualquer um que se comunica. É nostálgico e curioso para quem consumiu as campanhas e participou dos eventos memoráveis, com interessantes bastidores, e traz ótimas lições de sucesso, de fracasso inspirador e de como saber se relacionar e se promover ajuda no êxito pessoal e profissional. Porém, reforça naturalmente que nada disso funciona se não houver competência e verdade por trás disso tudo.

No final, “Direto de Washington” diz muito sobre Olivetto, mesmo sem falar tanto sobre ele. E afinal, quer coisa melhor que, ao invés de aprender mais sobre a vida de outra pessoa, levar como aprendizado mastigado o que a própria vida ensinou para ela?

Sobre o livro:

Título: “Direto de Washington”Autor: Washington OliveiroEditora: Sextante (Selo Estação Brasil)Preço: R$ 49,90 (e-book por R$ 29,99)Páginas: 400

Updater: Karan Novas

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