Estamos em casa (análise sem spoilers)

Desde 25 de Maio de 1977, o mundo do cinema e da cultura pop não é mais o mesmo. Star Wars (que posteriormente ganhou o subtítulo “Episode IV: A New Hope”) se tornou um clássico instantâneo e um sucesso de bilheteria incomparável. Mas nem tudo são flores. Para muitos fãs, o genial (e bilionário) criador da série, George Lucas, esqueceu toda a fantasia espacial épica que abordava a Força (em maiúsculo, como algo divino merece) e criou três filmes que, para muitos, desfazem a magia criada com a chamada trilogia clássica. Em 2015, porém, a história parece voltar aos trilhos.

Com uma lucidez que só a idade – e US$ 4 bilhões – concede, George Lucas “largou o osso” em 2012, quando vendeu a Lucasfilm para a Disney. E como a Disney não brinca em serviço, definiu o lançamento de uma nova trilogia para atrair jovens fãs e fazer a cabeça dos antigos admiradores da trama explodir. JJ Abrams foi anunciado em 2013 como diretor do episódio VII, lançado nesta quinta-feira (17) no Brasil. E, finalmente, os fãs foram levados para casa.

“O Despertar da Força” não é apenas um filme. É uma homenagem aos fãs antigos, uma apresentação para os novos fãs e, acima disso, uma aula de cinema e narrativa.

Star Wars: The Force Awakens L to R: Director J.J. Abrams w/ actress Daisy Ridley (Rey) on set. Ph: David James ©Lucasfilm 2015

A homenagem já começa pelas semelhanças latentes com os clássicos. Desde a apresentação do vilão, passando por pequenos detalhes da trama parecidos com os da trilogia clássica (que não há como detalhar sem dar spoiler). Além disso, há easter eggs que beiram o fan service, mas que farão os olhos dos mais velhos ficarem marejados.

A apresentação dos principais novos personagens é excelente e, passados alguns minutos com cada um deles em tela, você logo percebe as características marcantes de Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega), Poe Dameron (Oscar Isaac) e o vilão Kylo Ren (Adam Driver). A aparição dos personagens clássicos dá arrepios e, dependendo da sessão e da empolgação dos espectadores, certamente provocará aplausos.

Estão todos bem e a química entre o elenco antigo e o novo é muito boa, com destaque para o quinteto Rey, Finn, Han Solo (Harrison Ford), Chewbacca (Peter Mayhew) e BB-8. Este último, aliás, é uma mescla de cachorro fofinho com criança adorável (você vai sair do cinema querendo comprá-lo).

Star Wars: The Force Awakens L to R: Director J.J. Abrams on set w/ John Boyega (Finn). Ph: David James ©Lucasfilm 2015

Mas é preciso louvar JJ Abrams e toda a equipe de produção. A trilogia “nova” – “A Ameaça Fantasma” (1999), “Ataque dos Clones” (2002) e “A Vingança dos Sith” (2005) – mostrou que bons atores não fazem um bom filme. É preciso roteiro, direção, produção, montagem acurada, etc. O roteiro de “O Despertar da Força”, escrito a quatro mãos ao lado do genial Lawrence Kasdan (“O Império Contra Ataca” e “O Retorno de Jedi”) traz ritmo, diálogos rápidos e humor na medida certa (não há nada que lembre o asqueroso Jar Jar Binks).

A fotografia é de tirar o chapéu e há vários momentos de cair o queixo, como o pôr do sol binário e a imagem de Luke, Leia, C-3PO e R2-D2 observando a galáxia.

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O filme peca aqui e ali. Num dado momento, por exemplo, um dos vilões esbarra no overacting, o que causa certa estranheza. Aliás, o lado negro também tem promessas que não assustam tanto quanto o esperado.

Mas o trabalho da Disney é uma lição de marketing. Depois de ver o filme, você vai perceber como decisões da divulgação fizeram total sentido.

O filme termina com a sensação de “quero mais” temperada com “dever cumprido”. Os fãs estão em casa.

Tks, JJ

Updater: Leonardo Araujo

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