Eu acredito em Christopher Nolan

Uma resenha spoiler-free de O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Por Ivan Costa, colaborador do Danger!

Em 2009, organizei a exposição “Batman 70 Anos” para o FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos. Após anos de pesquisa e colecionismo para montar a exposição me descobri ainda mais fã do personagem e de sua versatilidade: das aventuras policiais da década de 40 às pirações espaciais dos anos 60, o personagem sempre funcionava. Parecia ser fácil trabalhar com o Homem-Morcego.

Ledo engano. Esse excesso de interpretações podem levar a escolhas equivocadas. Acredito que o ponto chave é adaptá-lo ao seu tempo, dar a ele contornos que reflitam e tenham ressonância com aquele momento. O Batman camp da década de 60 funcionou perfeitamente naquele momento histórico e cultural, mas resgatar aquela intepretação na cínica década de 90 foi o pior equívoco que Joel Schumacher poderia cometer, como fez em “Batman Forever”(1995) e “Batman e Robin” (1997), que serviram para afastar o Homem-Morcego dos cinemas por quase uma década.

Ou seja, a responsabilidade de Christopher Nolan era grande com “Batman Begins” (2005). Mas ele não é um criador qualquer. Trouxe o personagem para o mundo real, se preocupou com o desenvolvimento psicológico dos personagens e criou um filme de ação e drama que fez sucesso pelo mundo todo. E agora?

Com “O Cavaleiro das Trevas” (2008), ele mudou o jogo novamente. É o filme do Coringa, tão insano, trágico e imprevisível como o próprio. A carga de informação apresentada à plateia causa vertigens – confesso que fui entender completamente o filme após assisti-lo pela terceira vez, mas desde a primeira eu já sabia que estava diante de um clássico moderno. Não à toa, é o 8o melhor filme de todos os tempos segundo votos registrados no site IMDB. Como superar isso?

Antes de assistir a “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, procurei ficar o mais distante possível de qualquer informação que pudesse trazer algum spoiler do filme – até porque parte da imprensa tem o péssimo hábito de descrever o filme achando que estão criticando a obra – pois não queria estragar a surpresa. Fico feliz por ter adotado essa estratégia.

Ainda que “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” não seja o melhor filme da trilogia – francamente, é difícil ficar à altura de uma obra-prima como “O Cavaleiro das Trevas”, o filme encerra de forma magistral aquela que é, sem dúvida, uma das melhores interpretações do Batman em qualquer mídia.

“O Cavaleiro das Trevas Ressurge é tão complexo e introduz tantos personagens que, sozinho, já teria conteúdo suficiente para uma trilogia em si. Mas Nolan não subestima seu público – feito raro nos dias de hoje – e vai sobrepondo camadas de informação com a certeza de que a audiência fará as conexões necessárias.

Christopher Nolan, ao lado dos escritores Jonathan Nolan e David Goyer, também são generosos com os fãs neste último filme. Momentos clássicos do Homem-Morcego são reinterpretados e introduzidos na tela a todo momento, algo que vimos com menos frequência nos dois filmes anteriores.

E, claramente, eles não apenas leram os quadrinhos como entenderam as histórias e os seus personagem. “Batman Begins” é fortemente apoiado em “O Longo Dia das Bruxas”; “O Cavaleiro das Trevas” traz elementos do filme anterior e incorpora a trama de “A Piada Mortal”, substituindo o Comissário Gordon por Harvey Dent como alvo da experiência do Coringa. Em “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, é possível reconhecer trechos de “A Queda do Morcego”, “Batman: Ano Um”, com toques de “O Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller, entre outras referências. Porém, mais importante que beberem em boas fontes, os autores entenderam as motivações dos personagens, que não aparecem exatamente como os conhecemos nos quadrinhos, mas foram recriados de forma a serem perfeitamente críveis em sua versão nesse universo realista e coeso de criado por Christopher Nolan.

Durante a maior parte dos 265 minutos do filme, eu me peguei sentado na ponta da poltrona, de boca aberta. Quando subiram os letreiros, veio a lembrança de que, segundo declarações do próprio Nolan, ele não estará à frente de um possível quarto filme, que sua história com o personagem se encerrou.

Mas a história do Homem-Morcego continuará e Nolan passa a fazer parte do seleto grupo de artistas que contribuíram significativamente para a construção do personagem e de seu universo ficcional e para sua permanência no imaginário cultural do mundo todo.

Você conseguiu, Christopher Nolan. Parabéns e muito obrigado.

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