- Update or Die!
- Posts
- Falta experiência, de vida.
Falta experiência, de vida.

Já pararam para pensar de quantas formas utilizamos a palavra experiência?
Experiência profissional, experiência acadêmica, experiência de vida, experiência de outro mundo, má experiência, falta de experiência, super experiência, experiência científica, experiência sexual, experiência prática, etc. O fato de uma simples palavrinha ter um significado tão vasto, sempre me intrigou.
Formalmente, o termo deriva do Latim EXPERIENTIA, “conhecimento obtido através de tentativas repetidas”. Na prática, acredito que ter experiência (em qualquer um dos seus significados), pode ser entendido por já ter experimentado o suficiente para conseguir realizar uma tarefa com qualidade e prevendo comportamentos futuros. Um piloto de avião, por exemplo, precisa de experiência de voo, adquirida com muitas horas de pilotagem e estudo para realizar um voo seguro e sem erros, prevendo e evitando possíveis situações. Um médico cirurgião necessita, dentre muitas outras coisas, de experiência prática adquirida através de simulações, para realizar procedimentos reais com qualidade, antecipar riscos e minimizar erros.
O tema é tão importante que criamos a capacidade de mensurar experiência com o tempo: 12 anos de experiência de mercado, 8 meses como gerente de pessoas, 400 horas de voo, 6 meses de experiência internacional, etc. Que simplista a forma que escolhemos… 12 anos trabalhando em um mercado, tantos aprendizados, oportunidades, medos, vivencias, pessoas, empresas, cargos… Me pergunto se tudo isso cabe mesmo em um único número…
No dinamismo do mundo atual, onde muito gira em torno do profissional (e da experiência profissional) e onde tentamos reduzir temas tão complexos a simples números, me preocupa que estejamos deixando de lado um tipo de experiência fundamental: a experiência de vida! Não seria esta a experiência mais importante de todas? É, a experiência de vida! Experiência em saber compreender as pessoas, em ter mais sensibilidade, em entender como as coisas funcionam, em ler as entrelinhas das situações, em ter ser mais paciente, em ter bom-senso, em manter-se calmo, etc.
Com tanto tempo trancados em escritórios, sentados à frente da TV, presos no trânsito das grandes cidades e analisando fotos alheias nas redes sociais será que estamos adquirindo as “horas de voo” necessárias para ter uma experiência de vida considerável? Está cheio de gente por aí nos seus 30 e poucos anos que não sabe levar um relacionamento a sério, planejar uma viagem, começar uma conversa com um desconhecido, avaliar riscos, tomar decisões, planejar o futuro ou simplesmente fazer uma compra de supermercado descente.
Tais casos me levam a crer que um simples número, ou a idade de uma pessoa não são as melhores formas de medir experiência de vida. Acredito que existem outras formas de avaliar tal habilidade tão rara hoje em dia… Livros já lidos, horas de conversas de bar, relacionamentos passados, países visitados, medos vencidos, perdas superadas, esportes praticados, tentativas de cozinhar que passaram do ponto, contas feitas para saber se o salário vai chegar até o final do mês, litros de lágrimas derramadas, trabalhos voluntários realizados, amigos conquistados, viagens planejadas, voos perdidos, decisões bem tomadas e também as mal tomadas. Não seria essa uma melhor forma de avaliar o quão experientes somos nessa tal arte de viver?
Viver 30 ou 40 anos de uma vida sufocado por uma rotina, seguindo os padrões da sociedade e sem ter a mínima curiosidade de buscar experiências novas definitivamente não é o caminho para acumular experiência de vida. O único que acumulamos neste caso, são rugas, um currículo extenso, uma conta bancaria satisfatória e uma vida infeliz.
Precisamos refletir sobre o tipo de experiência que queremos ter. Mais que isso, correr atrás para conquista-la. Em um mundo onde padronizamos e generalizamos tudo, buscando sempre a forma mais simples e fácil de ver as coisas, ter experiência de vida é uma qualidade única.
Quanto mais vasto for o nosso cardápio de experiências vividas, sob mais perspectivas distintas podemos ver o mundo. Essa diversidade de pontos de vistas e perspectivas é a maior (e talvez a única)esperança que temos para encontrar soluções para problemas tão complexos que temos no mundo atual: transporte público, corrupção, educação, crimes, pobreza, etc. Nossos profissionais super “experientes” em suas profissões ou campos de estudo não estão sendo capazes de encontrar as devidas soluções. Falta experiência, de vida!
IMG: Shutterstock
Updater: Do Leitor
Reply