Gente que conversa assobiando

Táxi, cachorro, mulher bonita e música.

Para a maioria das pessoas, o repertório do assobio (ou assovio) pára por aí.

Mas para uns poucos humanos no planeta, o assobio é uma linguagem completa.

Pode ter vários nomes, como o Silbo espanhol, o Chepang nepalês, a Bafia africana ou até o Pirahã, aqui no Brasil.

O assobio virou língua por causa da preguiça.

Surgiu em locais montanhosos, onde as pessoas moravam muito distantes umas das outras, e para bater um papinho com o vizinho era preciso descer e subir montanhas. Então assobiavam.

assobio

Mas então por que eles simplesmente não gritavam?

Boa pergunta.

Um grito alcança 500 m. Um assobio, 5 Km.

Faziam um DDD. Na verdade um ADD: assobiagem direta à distância.

Aí, com o tempo, para o vizinho João não achar que você estava chamando, quando na verdade estava querendo falar com o vizinho Marcelo, o assobio começou a imitar os nomes.

Para chamar o João eram 2 assobios curtos, como se falasse “Jo-ão”, em assobio. E para chamar o Marcelo eram 3 assobios mais longos: “Mar-ce-looo” (fiu-fiu-fiuuuu…).

E assim nasceu a língua dos assobios.

E dos nomes para um “vamos tomar um café?” foi um pulo.  Foram surgindo frases cada vez mais elaboradas, sempre imitando a melodia das frases na língua original.

silbo2

Pó-pó-pó? Pó-pô!

Um pouco mais adiante, os fazendeiros que batizavam o leite diluindo com água, eram alertados pelos vizinhos quando a polícia vinha fazer inspeção. Ou, quando os soldados nazistas se aproximavam, na época da guerra.

Quer ver como você conhece um assobiador desses, famoso?

O R2-D2, aquele robozinho de Guerra nas Estrelas. Por falta de expressão facial, seus barulhinhos robóticos foram inspirados na linguagem dos assobios e assim, podemos entender perfeitamente quando ele assobia “oh-ho, o Darth Vader!”.

Hoje, o assobio é uma língua em extinção. As novas gerações das montanhas, quando querem tomar um café com o vizinho, pegam o celular e ligam. E o aparelho do amigo pode assobiar em centenas de ringtones diferentes. Em alguns desses povoados, tem até aula de assobio nas escolas, para tentar preservar essa arte cultural. Mas vai ser difícil.

Uma pena, porque não tem nada mais descolado do que falar por assobio, até 5kms de distância.

Mesmo que seja só para elogiar a beleza da moça que passa, com um fraseado mais original que “fiu-fiu”.

Updater: Wagner Brenner

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