Logorreia – A Patologia do Século

Em junho deste ano, o sempre indicado ao Nobel de literatura Umberto Eco opinou que as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis. Para o filósofo, antes a coletividade não era tão prejudicada, pois bobagens eram ditas apenas nas mesas de bares depois de uma taça de vinho. Já hoje, a voz desses imbecis tem o mesmo alcance de um Nobel.

Há um termo na medicina, ainda pouco divulgado nos meios de comunicação, que descreve perfeitamente essa imensa necessidade das pessoas expressarem suas opiniões e exigirem uma concordância por parte do mundo: a logorreia.

Logorreia é a necessidade patológica de falar e apesar de ser um termo psiquiátrico e passível de tratamento, não é nenhum absurdo aproximarmos o conceito através desse recorte para essa legião que o Eco descreve.

A maioria de nós não aguenta mais essa briga “esquerda x direita” nas redes sociais, como se todos os comentadores fossem cientistas políticos e pós-graduados em História do Brasil. Não suportamos mais os PHD´s do Facebook, que além de moralmente perfeitos, entendem de amor, arquitetura urbana, boa alimentação, ética florestal, moda, cinema, exercícios físicos, futebol e qualquer outro assunto que possamos imaginar.

Quem de vocês nunca entrou nos comentários de uma notícia de jornal no Facebook e se irritou com as certezas postadas ali? Com a quantidade de indivíduos querendo “falar” mais alto e assim ganhar mais likes?

Se as redes sociais não fossem fruto do meu salário e dos meus estudos, pensaria seriamente em dar um tempo delas. Por mais que filtremos seus conteúdos, é impossível não se deparar com opiniões rasas e desprezíveis.

Talvez minha logorreia tenha me trazido até aqui, mas não podemos nos esquecer, que apesar das redes sociais, ainda existe a possibilidade de nos calarmos diante daquilo que não temos conhecimento suficiente. Como já dizia Goethe no século XVIII: falar é uma necessidade, escutar é uma arte.

Será que o narcisismo contemporâneo dá conta dessa arte?

Updater: Tiago Souza