Mãe é mãe

Estamos em um ano que não me lembro, mas é época de mais um dos enésimos relançamentos do bom e velho Opala. Talvez 1982.

A frente do carro muda radicalmente, e nada mais de novidade. Paulo Almeida, criador da McCann-Erickson, apresenta o filme para o Grupo de Contas, Pesquisa, Gerência da agência. O filme é assim:

Noitinha, bairro bem tranquilo, rua arborizada, casas geminadas, jardinzinho na frente. Um Opala invade a entrada lateral de uma das casas, como que querendo estacionar na garagem. É o marido, chegando de carro novo, fazendo surpresa para a família. Buzina.

Mulher vem à janela e não consegue enxergar nada, ofuscada pelos faróis altos.

Apavorada, ela liga para a polícia, conta que tem um carro estranho tentando entrar na garagem dela. Ela descreve o carro para o policial, em detalhes. Ela vai se encantando com as linhas, aerodinâmica, beleza do carro. A câmera revela o novo Opala, mostra a nova frente, o design. Fim do comercial.

Decisão da Pesquisa é inquestionável: Polícia é uma instituição com graves problemas de imagem e só trará associações negativas à marca Chevrolet Opala. Vale lembrar que estávamos recém saindo dos anos de chumbo da Ditadura.

Mas a ideia é boa. Então vamos mudar: será melhor que a mulher telefone para mãe dela. Mãe é uma figura mais positiva, inspira confiança, dá credibilidade e agrega traços afetivos ao Chevrolet Opala.

Não adiantam as argumentações: sai a Polícia, entra a Mãe no comercial.

Dias depois, apresentação para diretoria da GM. Paulo Almeida conta o filme.

Noitinha, bairro bem tranquilo, rua arborizada, casas geminadas, jardinzinho na frente. Um Opala invade a entrada lateral de uma das casas, como que querendo estacionar na garagem. É o marido, chegando de carro novo, fazendo surpresa para a família. Buzina.

Mulher vem à janela e não consegue enxergar nada, ofuscada pelos faróis altos. Ela liga para a positiva, confiável, crível e construtiva mãe.

Conta que tem um carro estranho tentando entrar na casa dela. Apreensiva, a ilibada mãe recomenda: “Esse negócio de carro estranho tentando entrar na sua casa não me cheira bem. Liga logo para a polícia, filha!” Resignada, a mulher desabafa: “Não posso, mamãe, a Pesquisa não deixa …”

O filme foi produzido pela Nova Films, dirigido pelo Claudio Meyer, um belo lançamento. Com a mulher ligando para a Polícia mesmo.

Afinal, a pesquisa tem que ser sensível, inteligente e sempre a favor da ideia.

Texto originalmente extraído do Blog do Perci.

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