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Me chame pelo seu nome: uma reflexão minha que também é sua

Esse texto não contém spoilers. Talvez só spoilers da vida real mesmo, mas enfim. Vá em frente.
Fazia tempo que eu não lia um romance. Tirando as mensagens de WhatsApp dos meus amigos com relatos sobre as suas desilusões amorosas, fazia tempo que eu não parava para ler uma história em que os personagens viviam um lance ou aquilo que chamamos romanticamente de: amor.
Fazia tempo, também, que um livro não me conquistava pelas lutas diárias que eu mesmo encaro. Ser gay no Brasil (e por que não no mundo?) ainda é uma tarefa difícil, cansativa e me ver minimamente representado não era algo comum. Me sentia cansado dos estereótipos da dramaturgia e dos contos, que são puramente putarias bem escritas, que circulam a internet, então resolvi entrar na busca de algo que pudesse tirar a minha respiração enquanto lia. Sim. Aquela sensação de soco na boca do estômago que acontece no meio de uma leitura, que te faz tirar o rosto das páginas, retomar o fôlego e só depois voltar para o livro.
Enfim.
Me deparei com “Me Chame Pelo Seu Nome”, do autor André Aciman, que já publicou nos mais respeitados veículos de informação e que, agora, está vendo a sua obra sendo retratada nas telas de cinema de todo o mundo.
Mas voltemos para o livro. Este estava me perseguindo. Era um anúncio no feed ali, um comentário de um amigo aqui e acabei cedendo. Anotei na mão e comprei o danado depois de um expediente da agência e: que bom que o fiz.
Resumidamente, “Me Chame Pelo Seu Nome” conta sobre um encontro de dois personagens, homens, em algum lugar do norte da Itália no verão de 1983. Entretanto, os processos da narrativa são tão minuciosos e psicológicos, que a sua atenção fica totalmente presa aos devaneios, desejos e relatos preciosos sobre o amor que o livro oferece. Os cenários do enredo beiram a perfeição de um quadro do Monet, mas nada se compara ao jeito com que o livro descreve a insegurança de querer, de amar e de não saber ao certo se o outro lado será capaz de corresponder a essa coisa tão bonita e intensa que flui dentro de nós.
A desconstrução dos sentimentos (ah, o amor) é uma das coisas que mais tem me interessado ultimamente e Aciman acertou em cheio nas passagens que compõe o livro. Elas fazem parte do imaginário coletivo dos relacionamentos homoafetivos. Será que posso demonstrar o meu afeto? Sou permitido a amar, a tocar, a sentir? Este mundo é para mim? São questionamentos que rondam a cabeça de minorias que precisam reinventar o conceito de felicidade para viverem minimamente bem. Aliás, tudo o que ronda a nossa cabeça, não se aproxima em nada com o amor óbvio e heterossexual, que foi construído antes mesmo do nosso próprio nascimento.
Ao segurar o livro em mãos, me vi diante de uma obra sensível, dessas que às vezes a gente flagra durante a rotina, mas que não dá tanto valor. Um beijo apaixonado no canto do metrô, um abraço paternal, uma piscada carinhosa no meio da tarde… Você sabe, tudo aquilo que pode esconder uma boa história, assim como Me Chame Pelo Seu Nome, que me trouxe um calor de autodescoberta e a certeza do quão apaixonados por estar apaixonados nós, humanos, somos.
Talvez, também, tais impressões sobre o livro sejam pessoais e o impacto aqui fique, exclusivamente, por conta da minha própria subjetividade. Mas é inegável dizer que algo em “Me Chame Pelo Seu Nome” desperta o amor de carregar um livro por aí, virando as páginas com ansiedade de terminar uma história que eu nem escrevi, que é de outro autor, mas que acaba sendo tão minha também.
Por fim, em tempos em que questionamos o futuro da mídia impressa, eu insisto em dizer que não enxergo, de maneira alguma, um fim sacramentado para os livros. Então, se você não leu, aqui fica o meu conselho. E se você tem preguiça, tudo bem, me faça um convite… Agora que terminei a leitura, posso ir ao cinema assistir Me Chame Pelo Seu Nome.
Updater: Arthur Zambone
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