Não Quero Morrer

No meu último texto, falei sobre a relação entre morte e Facebook, pedindo inclusive para excluírem o meu perfil em caso de uma fatalidade. Fiquei com esse assunto na cabeça e ao ler alguns comentários, certas pessoas argumentaram que a rede social pode ser uma forma legítima de deixar a sua história para as próximas linhagens. Uma espécie de diário virtual, com fotos, compartilhamentos, ideias, lugares frequentados etc.

Não acho uma ideia estranha, principalmente quando olhamos para a história da ciência moderna (metade do século XX pra cá) e seus artifícios para prolongar o tempo de vida humana ou melhor dizendo, a juventude.

A imortalidade não é uma ideia nova, desde a Grécia antiga, a mitologia conta a história de Sibila Cumana, que pediu vida eterna à Apolo mas se esqueceu de pedir a juventude. Quando ela atingiu 1000 anos, desejou morrer, mas não conseguia.

Já que (ainda) não podemos ser eternos, usamos a tecnologia a favor dessa meta. Por isso, quero discutir com vocês algo muito além da eternidade em uma rede social, e sim em um site desenvolvido exclusivamente para nossa imortalidade. Seu nome é Eternime e seu slogan é Who Wants to Live Forever? (Quem quer viver para sempre?).

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Ao se cadastrar no site, entramos em uma lista e esperamos alguns meses para começar a criar um avatar que será alimentado com informações que você armazenará nos servidores do site. Você poderá falar do seu dia a dia, contar segredos, desejos, gostos, decepções, amores e o que mais desejar. No decorrer da sua vida, o software através de uma inteligência de Biga Data entenderá o seu perfil, expressões, envelhecimento e comportamento para que no momento da sua morte você possa continuar conversando com todos aqueles que ficaram na Terra.

O Eternime foi lançado em 2014 e já conta com quase 30 mil usuários cadastrados. Se ele é uma forma de agonia para alguns, pode ser uma espécie de conforto para outros. O único cuidado é não esquecermos que a máscara que usamos nas redes sociais é a mesma máscara que usamos fora delas, como já bem expressou o psicanalista Contardo Calligaris em 2012 para a Info.

Updater: Tiago Souza

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