O alimento que une e cria conexões

Estamos vivendo o advento da alimentação orgânica e esta traz a tona o que nossa sociedade tem de melhor: o compartilhamento e a empatia.

Uma verdadeira revolução já está acontecendo. Uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que cresce, já disse o Papa Francisco. Este é exatamente o meu sentimento ao ver incríveis iniciativas surgindo e nos mostrando a luz no fim do túnel deste mundo cada vez mais individualista e gourmetizado. Na minha opinião, estamos vivendo o advento da alimentação orgânica e esta traz a tona o que nossa sociedade tem de melhor: o compartilhamento e a empatia.

A Trendwatching preparou no último mês de setembro um trend briefing para as Américas do Sul e Central com dez inovações que surpreenderam a expectativa do consumidor no campo alimentício e de bebidas. Um dos cases citados na apresentação é uma horta com “alimentos frescos, de produtores locais e segundo processos sustentáveis” plantada nas gôndolas do supermercado Zona Sul, um dos mais tradicionais no Rio de Janeiro. A idéia é que o cliente colha o que precisar e leve o alimento ainda fresco para casa. Esta ação, criada pela WMcCann, sem dúvida gerou aumento do interesse do consumidor por este segmento, e ainda ganhou um Cannes neste ano.

Ainda há o mito de que só quem tem dinheiro pode se dar ao luxo de consumir orgânicos. Mas outro projeto brasileiro citado na mesma apresentação é o FarmSquare (www.farmsquare.com.br), que tem o objetivo de promover o encontro entre pessoas que querem doar alimentos saudáveis e quem está procurando por eles. Segundo a própria plataforma, esta iniciativa “contribui para uma alimentação mais saudável do brasileiro, evita desperdícios e diminui o deslocamento” já que a ideia é que a troca ou doação aconteça por perto do usuário. Todo o processo se dá por meio de um aplicativo para celular. Na nova economia o “ter acesso” se sobrepõe ao ter e acumular. E apenas para não perder a oportunidade de citá-lo, gostaria de recomendar sob esta mesma perspectiva o aplicativo Tem Açúcar? (www.temacucar.com), disponível na App Store, da Apple, e na Google Play. Pretendo escrever sobre ele e sua relevância para a nova economia em breve.

“Comida é uma forma de conexão, que ajuda a reestabelecer um sentimento coletivo que perdemos no caminho dos tempos modernos.” Tomás Abrahão, Fundador da RAÍZS.

Voltando aos orgânicos. Outro projeto que cria conexões reais tendo o alimento orgânico como intermediador é o RAÍZS (www.raizs.com.br). A plataforma criada por ele cria um forte ponto de contato entre o consumidor urbano e o pequeno produtor rural, que muitas vezes tem dificuldade de escoar seu produto. Com foco na empatia, a relação é criada com fotos ou cartas escritas a mão, fazendo com que o consumidor saiba exatamente de onde veio o alimento, quem o plantou e quem o colheu. Em resumo, o RAÍZS é um hortifruti virtual onde você pode fazer a sua feira com a possibilidade de conhecer os produtores do seu alimento. Eles garantem que a colheita da maioria dos produtos é feita depois da compra ser aprovada, garantindo assim o frescos com que o alimento chegará a sua mesa. O consumidor também pode assinar um dos pacotes oferecidos e receber toda semana em sua casa um kit com frutas, verduras e legumes. Sistema parecido é oferecido também pelo pessoal do Clube do Orgânico (clubeorganico.com), aqui no Rio de Janeiro.

Continuando na pegada de baratear os custos e tornar o consumo de orgânicos mais acessível a todos, outro projeto bem bacana é o Saladorama (saladorama.com). A missão é clara: “democratizar o acesso a alimentação saudável e ao mesmo tempo ser uma fonte de renda para moradores de favelas”. A empresa já está presente no Rio de Janeiro, Sorocaba, Recife e Florianópolis, e impactou mais de 50 mil pessoas até 2015. O trabalho é constante para baratear os custos e hoje cada salada já custa menos que um combo no McDonald’s, por exemplo.

Bom, depois de tantas opções já pensou o que vai fazer com o lixo gerado? Para nos ajudar a reduzir ainda mais o impacto que causamos ao meio ambiente, surge a proposta do Ciclo Orgânico (cicloorganico.com) para “fechar o ciclo [de consumo] coletando seu lixo orgânico para transformá-lo em fonte de vida”. Eles próprios se definem como “um negócio social que tem como missão co-criar uma comunidade em que lixo seja solução e não um problema”. Muito do que descartamos como detrito pode ser reaproveitado, e imagina que sonho seria se a coleta seletiva para recicláveis funcionasse em parceria com a coleta orgânica. Pois bem, a coleta seletiva já é uma realidade em algumas cidades brasileiras, mas a inovação do Ciclo Orgânico está justamente em coletar apenas os resíduos orgânicos. O segredo deles está no baldinho que o assinante recebe para depositar todo resto orgânico ao longo da semana, e através da técnica da compostagem o que seria lixo vai se transformando em adubo de alta qualidade, segundo eles. O fechamento do ciclo se dá ao final de cada mês onde o cliente pode optar por receber uma muda de hortaliça, o composto gerado ou doar o material para um agricultor parceiro. O mundo ideal.

Ciclo Orgânico

Por um mundo com menos “boutiques de frutas selecionadas” e com mais comida de verdade, feita por gente de verdade. Este texto é minha pequena contribuição e homenagem às pessoas de verdade que querem contribuir com a construção de um mundo mais justo e igualitário a partir de seus próprios negócios. Em 2016, já passou da hora de focarmos nossos negócios no ser humano e não somente nas demandas de mercado. Aliás, qual a origem dessas demandas: a necessidade humana ou a necessidade do próprio mercado? Você sabe a resposta.

Imagem de capa: Tomás Abrahão, Divulgação RAÍZS.

Updater: Alan Bruno

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