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O designer também é millennial: o impacto na carreira e no design

Você já deve ter se deparado com o termo “Millennial” em algum brief que recebeu nos últimos anos. A geração Millennial (ou Geração Y) é aquela nascida após 1983 – a primeira geração que atingiu a maioridade já no novo milênio.

Para facilitar a conta: todo mundo que tem até 32 anos, hoje, é considerado um millennial.

Mas a expressão “millennials” não é usada apenas para delimitar uma faixa etária.

Ser millennial é uma mentalidade.

Os Millennials são a geração que cresceu com a Internet fazendo parte de suas vidas. É a geração “mimada”, que reclama quando o 4G do celular não funciona dentro do elevador, que não consegue ficar mais de 10 minutos sem fazer nada (celular em mãos!) e que passaram a juventude toda ouvindo que são especiais e capazes de mudar o mundo. E são mesmo.

Só que “millennials” não é só o nome da audiência que aparece no brief do seu novo projeto. Se você trabalha em uma empresa que projeta e desenvolve produtos digitais hoje em dia, há grandes chances de que mais da metade do seu time também seja formado por pessoas dessa mesma geração.

Mas como será que a mentalidade dessa nova geração impacta a carreira dos designers, o dia-a-dia no trabalho e o design que está sendo criado?

Bom, é tudo um ciclo.

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Promoções e aumentos mais frequentes

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O vídeo do início do post apresenta uma ótima sequência de falas:

“Vocês nos fizeram crescer acreditando que somos especiais. E fizeram tanto isso que nem precisamos fazer nada para merecer sermos premiados. Eu ganhei esse troféu aqui simplesmente por existir no meu time de futebol.”

Esse excesso de recompensas durante a infância e a adolescência também tem impacto quando o millennial se torna adulto e parte para o mercado de trabalho: ficar um ano sem receber um bom aumento de salário ou uma promoção de cargo pode ser frustrante para a geração que se acostumou com recompensas mais imediatas.

Como consequência…

Pular de emprego em emprego é a nova norma

Hoje é muito comum que os profissionais fiquem menos tempo na mesma empresa. Quando estou avaliando perfis do Linkedin para potenciais contratações para o meu time, costumo reparar que o tempo médio de permanência de um designer dentro da empresa gira em torno de 1 ano a 1 ano e meio, e em muitos casos bem menos do que isso.

No passado isso era visto com maus olhos, mas hoje em dia já passou a ser a nova norma. Soma-se a isso o fato de que o mercado de design está superaquecido (muita procura, pouca oferta verdadeiramente qualificada), e é comum vermos designers pulando de um job a outro com muito mais frequência.

Apesar dos profissionais de RH ficarem de cabelo em pé, eles já não esperam (apesar de tentarem) que um novo designer fique mais de 4 anos na mesma empresa. Essa passa a ser a exceção, e não a regra.

Como resultado, designers acabam subindo de cargo em algumas dessas trocas de emprego, fazendo com que eles “escalem a ladeira corporativa” com muito mais rapidez. Hoje em dia um designer com 3 ou 4 anos de profissão já é considerado Senior, e às vezes antes dos 5 anos de experiência já começa a gerir profissionais mais junior abaixo deles.

E falando em rapidez…

Projetos mais curtos e certeiros

Todo designer quer mudar o mundo para melhor, mas ao mesmo tempo ninguém quer trabalhar mais de 6 meses seguidos no projeto que vai tornar isso possível. Mesmo em empresas maiores e em projetos mais complexos, os designers evitam os projetos que terão dois ou três anos de duração.

Essa é a geração que propôs o conceito de MVP (Minimum Viable Product) – qual o mínimo de esforço e tempo necessário para conseguirmos colocar algo no ar?

Como consequência, para os gestores isso significa uma camada nova de atenção: garantir que os designers que têm essa mentalidade nunca fiquem tempo demais trabalhando no mesmo produto, ou na mesma funcionalidade de um determinado produto. É muito comum rotacionar os designers pelos projetos a cada seis meses, para evitar que eles se sintam entediados e para garantir que novas habilidades profissionais sejam aprendidas com mais velocidade.

O que nos leva a outro ponto…

Mais flexibilidade nos horários e localização

Meus pais contam que na época deles, faltar no emprego era considerado um absurdo – e se acontecesse mais de uma vez ao ano eles ficavam com medo de serem demitidos.

Hoje em dia isso acontece com muito mais frequência. Ninguém olha feio caso você precise trabalhar de casa de vez em quando – e muitas empresas já encorajam esse comportamento pensando no bem estar de seus funcionários.

A geração dos Millennials também cresceu acostumada com horários flexíveis e com a possibilidade de estar em vários lugares ao mesmo tempo. É a geração do MSN, Skype e FaceTime, que consegue colaborar a distância e depende menos de estar fisicamente no escritório para conseguir fazer o seu trabalho – graças, é claro, às ferramentas de colaboração na nuvem que se tornaram muito mais robustas nos últimos anos.

Segundo um estudo da Cisco, 87% dos millennials acreditam que as reuniões em vídeo tiveram um impacto positivo na organização em que trabalham. Millennials estão cada vez mais aderindo às interações via vídeo em detrimento das interações face-a-face.

O que nos leva a…

Colaboração como nunca antes vista

Millennials ajudam a construir organizações mais colaborativas. Eles estão acostumados a trabalhar em times para atingirem objetivos em comum. É menos sobre a empresa para a qual eles trabalham, e mais sobre as pessoas com as quais eles estão trabalhando. Aliás, 74% dos millennials preferem trabalhar em grupos menores de pessoas.

Essa é também a geração Wikipedia e Crowdsourcing – que aprendeu com o passar dos anos que é possível usar o trabalho coletivo para construir algo maior. Você não precisa fazer tudo do zero; você pode conectar o trabalho que várias pessoas estão fazendo para fazer as coisas andarem com mais rapidez.

Além de colaboração, transparência. Eles procuram trabalhar em empresas que sejam transparentes, e esse comportamento se transporta também para o dia-a-dia no trabalho e na forma como as organizações estão estruturadas…

Uma relação menos hierárquica

Essa é a geração que cresceu desacreditando em políticos e grandes líderes. Millennials preferem uma cultura mais honesta, transparente e onde existam menos barreiras de acesso entre um nível e outro da corporação.

They will force companies to be transparent. Transparency is one of the top four qualities that millennials look for in leaders so it’s no surprise that when they become leaders that is something they will focus on.

 – Forbes

Enquanto a geração dos nossos pais foi treinada no modelo corporativo hierárquico, nós fomos treinados a repudiar tudo o que não seja colaborativo e igualitário. Um estagiário de design tem o mesmo direito de expressar sua opinião do que o diretor do departamento – e conhecendo a natureza do que fazemos em Design, isso traz consequências incrivelmente positivas para a qualidade do que está sendo criado. A diversidade de opiniões e o fato de que as pessoas podem expressar o que pensam com menos cabrestos do que a geração anterior faz com que esse seja o perfil profissional ideal para ambientes colaborativos.

O que leva ao ponto final…

Uma fonte infindável de inspiração

Essa pluralidade de vozes participando igualitariamente de um projeto só ajuda a fortificar a qualidade criativa do time – e chegamos aqui ao ponto que impacta mais diretamente o design.

Design é um processo de constante expansão e redução (expandir todas as possibilidades para depois decidir qual caminho seguir), e o comportamento dos designers millennials está completamente alinhado com essa mentalidade. A diversidade de profissionais, somada à baixa barreira de acesso da profissão, à mobilidade hierárquica e à ansiedade em ver as coisas acontecendo com rapidez acaba criando um “caos saudável” dentro do ambiente criativo. O desafio em manter essa geração entretida e motivada não é nada perto dos resultados e da energia que os designers mais novos trazem para o lugar onde passamos quase um terço de nossas vidas. For the win.

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