O making-of de dentro da sua cabeça

Na maioria das vezes acho os processos mais legais do que os produtos. Falo isso sempre. Nos processos dá para enxergar um raciocínio, dá para ver as tentativas, os erros, os acertos.

O produto é o resultado do processo, é o objetivo e óbvio que também tem que ser legal. Mas para aprender com os outros, busco os processos.

O fazer, ao invés do feito.

Usava muito esse método quando era Diretor de Criação. Ao invés de avaliar apenas os roughs, a direção de arte, o título, texto, etc eu procurava entender os caminhos percorridos para se chegar até aquela ideia.

rough2

Muitas vezes a ideia materializa mal, mas conceitualmente era boa. Pedia então para insistir no conceito, mas materializar de outra forma. Porque são 2 habilidades e 2 momentos que, embora dependentes, podem ser vistos separadamente.

Pasta, por exemplo.

Você vê o anúncio, o comercial, o site, o app, o protótipo e sabe-se lá o que mais se mostra em uma pasta (real ou virtual) hoje em dia.

São produtos finais.

Claro, dá para imaginar por onde se passou para chegar alí, mas é uma vitrine fácil de maquiar, difícil de julgar autoria e incompleta para se avaliar um profissional.

Na verdade muita gente de criação acabou virando “formateiro”, piloto de photoshop e redator de piada. E nem é culpa deles, aprenderam vendo isso por aí e a parte de criação de conceito tem virado uma arte em extinção.

Uma opção?

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Fazer o que esse jovem designer inglês, o Peter Smart, fez no ano passado.

50 PROBLEMAS DE DESIGN PARA RESOLVER EM 50 DIAS SEGUIDOS

O Peter bolou um auto-desafio: encontrar 50 soluções para 50 problemas de design em 50 dias.

Todo dia ele pulava da cama, saia para rua e tinha 24 horas para achar e solucionar um design que poderia ser melhor. Registrou tudo em um site.

problemas

Um dos problemas mais comentados foi o da ineficiência do Metrô para ocupar melhor os espaços nos vagões e otimizar o número de passageiros por viagem. Os trens não lotavam porque os passageiros têm mania de ficar na porta. Ele conta como enxergava o problema, como mudou a maneira de ver a situação depois que ficou um tempo na estação, as tentativas de design que fez  e não gostou, até chegar numa solução dentro do prazo.

Um cara desses leva isso na agência ao invés da pasta e você consegue avaliar com muito mais clareza o seu potencial.

NA PRÁTICA

É diretor de arte? Adote uma rua e refaça todos os logos do comércio.

É redator? Faça como naquele video famoso e reescreva as placas dos mendigos.

Sei lá. Procure um problema e imagine uma solução que as suas habilidades podem resolver.

Não faça só mais do mesmo.  Não faça mais só anúncio sem texto. Não faça mais só anúncio all-type. Pense no seu papel na sociedade. Imagine-se como uma peça da rede do consumo e não só o hype do nosso mundinho. Mostra como a sua cabeça funciona e não só o que você sabe fazer.

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Habilidade é metade. Habilidade é metade. Habilidade é metade.

O hábil resolve o incêndio. O criativo (característica, não cargo) resolve a agência e o cliente.

Leia o site do Peter Smart. Além de ser um formato novo de expor seu potencial criativo e operacional, é também uma viagem para você fazer junto e tentar imaginar suas próprias soluções.

Um dia essa vai ser a dinâmica das escolas. A ideia não é nada nova, desde que me conheço por gente ouvia expressões como “para conhecer seu consumidor/cliente tem que encostar a barriga no balcão” da loja, do bar, etc. Mas era mais uma força de expressão, era mais ingênuo e significava apenas conhecer seu consumidor.

Isso que o Peter Smart fez é pornografia de raciocínio, é explicitar o caminho percorrido. É making-of cerebral.

Quer mais uma dica de saideira? Na próxima apresentação de campanha, detalhe o seu caminho percorrido até o seu cliente enxergar a campanha antes de você mostrá-la. Layout na mesa é só para chutar a bola pro gol.

Updater: Wagner Brenner

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