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O narcisísmo que já mata mais que tubarão

Nunca achei que tirar foto fosse um esporte radical, mas parece que as coisas estão mudando.
Como a tal da selfie pode matar alguém? As pessoas que morreram, quiseram se fotografar de lugares de risco como picos extremamente altos ou na linha do trem, com o trem vindo, no plano de fundo. Vários fotógrafos de si mesmos saíram ilesos de peripécias como essa e assim, puderam tratar, filtrar e editar suas fotos e postá-las em suas redes sociais, obviamente. Atualmente, você não tira foto simplesmente para eternizar aquele momento, elas são tiradas para serem expostas e possivelmente serem classificadas pelos amigos através de likes, comentários e compartilhamentos.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Ohio constatou que homens que postam muitas selfies em redes sociais podem ter traços antissociais de narcisismo e maior tendência à auto-objetificação. É fato que com o crescimento das redes sociais, todos estão mais preocupados com a aparência, mas vale ter mais cautela na hora de ousar no seu auto-retrato.
Alguns teóricos arriscam dizer que o narcisismo seria o mal da contemporaneidade. Na atualidade, tendemos mais para o individualismo do que para a coletividade. O historiador e crítico social Christopher Lasch (1932-1994) disse nos anos 1970 que o narcisismo seria uma espécie de epidemia social. Ele estava certo. O indivíduo do mundo contemporâneo se olha o tempo todo, está constantemente voltado para si, mas de forma externalizada. Estamos mergulhados numa espécie de epidemia de pessoas solitárias com dificuldade extrema de conseguir lidar com vínculos afetivos. Pessoas essas que tendem a buscar uma felicidade vã, em meio a fotos montadas e a sorrisos vazios e ilegítimos.
Será que essa pesquisa realizada em Ohio não estaria evidenciando uma característica de todos nós, indivíduos imersos no mundo contemporâneo? Homens cada vez mais individualizados, sedentos por momentos felizes, com smartphones como extensores de nossos próprios corpos. Ferramentas essas capazes de passar uma visão distorcida de nós mesmos, e ainda, uma visão criada por nós. O “eu” se transforma em objeto social totalmente ampliado. Diante desse vazio específico do contemporâneo, as fotos postadas ontem já estão esquecidas, portanto, o indivíduo narcísico carece de novos desafios, mesmo que catastróficos, para que ele possa estar sempre em evidência nas redes sociais, sem mesmo se importar se no selfie daquele dia, ele arriscará sua própria vida.
Updater: Nathalie Hornhardt
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