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O Poço. Plágio ou só referência?

No mercado audiovisual como um todo, uma das discussões mais recorrentes diz respeito a originalidade dos projetos em desenvolvimento. Com a facilidade que a internet nos trouxe, há algum tempo temos acesso a um número absurdo de conteúdo que pode nos servir como uma simples referência ou se tornar uma enorme dor de cabeça – é nessa linha tênue que o recente sucesso da Netflix, “O Poço”, está transitando.
Em 2009, o diretor Denis Villeneuve (A Chegada) foi premiado em Cannes, em Toronto e ainda indicado em Sundance com seu curta-metragem “Próximo Piso” (“Next Floor” – título original). Villeneuve, até então, era desconhecido, embora já reconhecido pelo seu talento devido ao seu primeiro Longa Metragem chamado “Redemoinho”.
“Próximo Piso” mostrava os acontecimentos durante um banquete, onde onze convidados participam do que parece ser um ritual ou uma espécie de carnificina gastronômica em um universo completamente grotesco até que uma sequência de eventos inesperados desestabilizam essa interminável sinfonia de abundância como vemos a seguir:
Pois bem, se você já assistiu “O Poço” (ou apenas conferiu o trailer acima) eu duvido que você não tenha reconhecido várias cenas ou pelo menos vários elementos que estão fazendo tanto sucesso no filme espanhol. É claro que, por se tratar de uma minutagem diferente, “O Poço” explora outros pontos e se aprofunda muito mais na história, mas, me desculpem, o conceito é exatamente o mesmo! Na verdade, não só o conceito, mas muitas cenas são construídas da mesma maneira, com o mesmo objetivo, só que, talvez, com pontos de vista diferentes! Até a orquestra, a preparação do banquete, o enquadramento da comida, a reação dos convidados perante a abundância – é tudo muito parecido!

Eu sinceramente não acho isso um problema, o estudo de referências é uma atividade normal entre os Diretores de Cinema (e em Publicidade talvez ainda mais) – o próprio Fernando Meirelles já expôs essa prática sem o menor constrangimento (e com razão). Mas é preciso deixar claro também que ambos os filmes tem praticamente o mesmo estilo narrativo e a mesma mensagem base: a crítica sobre uma sociedade capitalista em sua essência representada pela ostentação gastronômica! Sendo Denis Villeneuve um cineasta tão conhecido, é de se presumir que o diretor de “O Poço”, Galder Gaztelu-Urrutia, provavelmente assistiu “Próximo Piso” e bebeu da mesma fonte!

Em um site mexicano, encontrei a seguinte afirmação de um cineasta local e que faz todo sentido: “Nos dias de hoje é impossível um roteiro ser completamente original, pois existem tantas produções que a única coisa que nos resta é montar um quebra-cabeça de vários elementos para formar uma obra de arte funcional, com um carimbo pessoal, mas que, de uma forma ou outra, se parece com algum título.”
O fato é que essa discussão virá sempre à tona quando a semelhança conceitual extrapolar a referência visual. Reconheço que são obras diferentes, claro, mas que partem do mesmo lugar e entregam a mesma mensagem, seguindo uma mesma construção de idéias, só que uma com 10 minutos e outra com 1 hora e meia!
Fica a reflexão!
Updater: Andre Siqueira
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