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O prestatençômetro (Q-Sensor)
Se tem uma coisa que os humanos gostam de fazer, é medir coisas.Distâncias, pesos, partes do corpo (umas mais que outras), tempo, pressão. Tudo.
O único problema é que, no ato de qualquer medição, duas forças opostas entram em ação: uma completamente objetiva (os dados) e outra completamente subjetiva (a interpretação desses dados).
“Torture numbers, and they’ll confess to anything.” (Gregg Easterbrook).
Agora, acabei de ler no G1, inventaram um prestatençômetro, chamado Q-Sensor.
É uma pulseira que mede a empolgação (ou mais chique e confiável: o “emotional arousal”) dos alunos.
Serve para identificar e mapear os momentos mais empolgantes da aula.
Eu não sei se é uma desgraça maior para o aluno ou para o professor, mas alguém certamente vai se ferrar com essa história. E com a justa causa do método mais crível que existe: os números.
Lembro que na década de 80 ou 90, inventaram um analisador de propaganda que também mapeava o nível de empolgação de um comercial de TV, segundo por segundo.
Enxergavam em gráfico elaborados uma infinidade de bobagens como “tração”, “climax”, “apelo”.
Falavam pérolas como “o filme começa bem, depois tem drop, no demo perde tração mas no pack verticaliza. Deveríamos ter mais pack-shots para manter o engajamento”.
Bleaargh!
E um monte de gente levava essa palhaçada a sério. Até que começaram a perceber que todo comercial de humor, assim como uma boa piada, tem mesmo um punch line e obviamente precisa ser flat no começo. Assim como uma dupla de humoristas tem sempre o escada, e seria muito fácil concluir que um é engraçado e o outro burro.
Ou seja: certas coisas precisam ser avaliadas pelo conjunto e não por pedacinhos. Não dá para achar uma música boa ou ruim investigando as notas.
Enfim, o projeto do tal Q-Sensor é patrocinado pelo Bill Gates, que apesar de bancar coisas interessantes como a Academia Khan, erra feio ao imaginar que esse tipo de aparelho possa ter qualquer benefício em ambiente educativo.
Dei uma olha da no site e parece que há outros usos, inclusive medição de propaganda (!) e alguns bem mais apropriados como o acompanhamento de flutuações emocionais em autistas. Aí sim!
Espero que essa pulseira seja usada para isso e nunca no pulso de estudantes em escolas.
Afinal, já dá para imaginar qual seria o passo seguinte.
Um choquezinho… bem de leve… cada vez que o “engajamento” baixasse de um certo número.
Um “electric emotional arouser”.
Só para ajudar a focar.
Updater: Wagner Brenner
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