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O que se aprende sem aula?

Escolas que investem na autonomia dos estudantes têm mais facilidade para lidar com a quarentena
Com o anúncio da suspensão das aulas em praticamente todo o país, as escolas particulares iniciaram uma corrida para digitalizar as suas aulas, para que estudantes pudessem receber os conteúdos mesmo à distância.
Escolas em São Paulo, que dispõem de estúdios de gravação, se lançaram a produzir vídeo-aulas em massa para compartilhamento entre seu público interno. Outras têm apostado em aulas com transmissão ao vivo, a salas vazias. E mesmo escolas com mínimos recursos têm buscado, na medida do possível, transmitir as matérias a seus alunos em casa, via internet.
A crise trouxe muitas dificuldades para a educação, e uma lição para as escolas: elas precisam se transformar, mais do que nunca, para atuar no cenário da cultura digital e da produção de conhecimento autêntico para o século 21. Ainda se mantêm apegadas à prática da transmissão de informação, apesar da abundância de tecnologia, dados e possibilidades. Elas querem dar aula, com ou sem alunos.
Salvo, e agora ficam visíveis, iniciativas consideradas alternativas para os moldes, que estão mostrando sua importância e harmonia com o tempo presente.
Essas escolas têm em comum a confiança na capacidade dos estudantes e a autonomia que entregam a eles, em projetos bem estruturados, que não dependem de aula, lousa ou acessórios com ares de inovação.
Uma delas, na cidade de Jundiaí, com cerca de 200 estudantes, recebeu a notícia da quarentena com tranquilidade do ponto de vista pedagógico. “Orientamos as crianças a continuarem seus trabalhos em casa, da mesma forma que fazem no colégio. Os professores fariam a mesma coisa, no mesmo horário”, comenta Victor Augusto, membro da equipe pedagógica, 32 anos.
O colégio implantou há dois anos uma proposta que dispensa séries e classificações por notas. Com o auxílio de uma plataforma digital, desenvolvida pela própria escola, os estudantes planejam e administram seus estudos. Em substituição às apostilas, cada educando carrega o seu computador para a escola, que pode ser o mais simples, desde que tenha acesso à internet e ferramentas de produção de texto.
“Mesmo suprimindo a interação coletiva, parte importante do projeto, mantivemos os outros pilares intactos: o percurso singular de cada estudante e o acompanhamento pedagógico”, completa Victor.
No ambiente digital criado pela escola, os estudantes sabem quais conhecimentos precisam adquirir e onde devem chegar. Com isso estabelecem “contratos de trabalho” com os professores, em que delineiam os caminhos que pretendem tomar. Os professores validam as propostas e iniciam a orientação dos projetos. Quando encerram um contrato, acreditando ter alcançado seu objetivo, os estudantes o demonstram ao professor, que os avaliará pessoalmente, apontando pontos a serem aperfeiçoados até que o conhecimento seja conquistado.
Apesar do momento de quarentena, de isolamento social, de incertezas e cuidados redobrados, as crianças têm sua rotina de trabalho preservada, autonomia para seguir em frente, e suporte factível, mesmo à distância.
A experiência e a crise abrem um grande portal para o futuro das escolas, e uma oportunidade para se reinventarem e repensarem seus papéis frente ao conhecimento e aos estudantes.
“Meu coração está dando pulos de alegria por esse retorno inesperado. A escola está mostrando que sim, que há um caminho próspero que conversa com esse novo mundo que está nascendo”, comemora Maira Engelmann, mãe do Rafael (foto), de 9 anos, que apostou na escola sem aulas.
Updater: André Medeiros
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