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Pensas que o mundo gira ao redor do seu umbigo? Estás muito enganado! O mundo gira ao redor do MEU umbigo!

Para fechar o tema, um artigo do psicólogo Carlos Alberto de O. Carvalho.
Beto, formou-se em economia pela FAAP. É psicólogo clínico pela PUC/ SP,com especialização em psiconeuro-fisiologia pela SOVESP. Praticante de Yoga e Meditação Tibetanadesde 1984. Atende em consultório particular com técnicas corporais há mais de 25 anos.Palestrante, facilitador de diálogo e mediador, trabalha com coaching e desenvolvimento humano,prestando serviços a diversas empresas.
No final do post uma coletânea (em .pdf) com todos os artigos sobre o tema.
Pensas que o mundo gira ao redor do seu umbigo? Estás muito enganado! O mundo gira ao redor do MEU umbigo!
Era uma vez um cavaleiro muito nobre e extremamente fiel ao seu rei Arthur e aos seus companheiros da távola redonda, chamado Sir Galahad…
Apresentou-se um momento muito difícil, pois o temível Cavaleiro Verde havia desafiado ao Rei Arthur para um combate. Mas o rei estava acamado, muito doente e não poderia aceitar o desafio. Sir Galahad se ofereceu para combater em nome do rei.
Mas era preciso cavalgar até o castelo do Cavaleiro Verde para enfrentá-lo. O local era praticamente inacessível, pois o castelo ficava numa ilha rodeada por um pântano terrível cercado por uma espessa floresta de espinhos.
Corajosamente Sir Galahad e seu cavalo enfrentavam os espinheiros procurando um acesso ao pântano, sem sequer imaginar como fariam para atravessá-lo.
Foi quando se depararam com a bruxa!
Feia não, medonha! Horrível, com seus cabelos desgrenhados, a pele escura e enrugada, o nariz adunco coberto de verrugas, os dentes podres exalando um hálito pestilento, ela sorriu e disse:
– Olá, Sir Galahad! Você veio enfrentar o Cavaleiro Verde e não sabe como entrar no castelo, não é?
– Como você sabe bruxa maldita?
– Sei também te indicar uma trilha até o pântano. Lá tenho um bote e posso guiá-lo até a ilha e lhe mostrar uma entrada secreta para o castelo, com escadarias que levam à antecâmara do Cavaleiro Verde, de modo que poderás desafiá-lo sem ter que passar pelos guardas!
– Qual a recompensa que me vais exigir por tão prodigiosa ajuda?
– Deverás prometer se casar comigo!
O cavaleiro, tomado pela fé em sua valorosa missão e sabendo que sem tal ajuda jamais alcançaria o sucesso, aceitou o acordo.
Tudo se deu como a bruxa havia dito e depois de um terrível combate com o Cavaleiro Verde, que era um gigante, Sir Galahad logrou a vitória. Decepou com a espada a cabeça de seu inimigo e a trouxe num saco para oferecer ao rei Arthur.
De volta à terra firme e já montado em seu cavalo, Sir Galahad foi cobrado em sua promessa pela bruxa:
– Te ajudei como o prometido. Você vai cumprir a sua promessa e se casar comigo?
Se vocês acham que Sir Galahad era mais um desses tipos que hoje estão no governo, que prometem qualquer coisa para ganhar o voto e depois fogem das responsabilidades, erraram!
Sir Galahad, com a voz firme e imponente, disse do alto de seu cavalo, sem hesitar:
-Sou um cavaleiro do rei Arthur e lhe dei minha palavra! Reconheço que sem a sua prodigiosa ajuda jamais teria vencido tantos e tão perigosos desafios! De bom grado me casarei com a senhora!
Puff!!!
Não saberia aqui descrever toda aquela magia dos contos de fada em que uma nuvem brilhante nas cores do arco-íris se formou em torno da bruxa e a transformou numa linda princesa!
Diante do olhar espantado do incrédulo cavaleiro a princesa explicou que havia sido enfeitiçada pelo Cavaleiro Negro, por recusar-se a desposá-lo. E que o feitiço só seria quebrado quando um nobre cavaleiro concordasse em desposá-la!
Mas havia ainda um problema: o feitiço havia sido apenas parcialmente quebrado! Ela deveria permanecer ainda 12 horas por dia como bruxa e somente nas outras 12 seria princesa!
Caberia ao nobre cavaleiro decidir se preferiria passar o dia com a princesa e a noite com a bruxa, ou passar o dia com a bruxa e a noite com a princesa. Difícil, hein? O que você escolheria?
Pense um pouco enquanto explico por que escolhi um conto tão comprido para falar sobre o narcisismo!
Freud falou de narcisismo primário, como aquele que é necessário para desenvolvermos a nossa própria imagem, a representação de si mesmo com a qual identificamos o nosso eu.
Falou do narcisismo secundário quando deslocamos a nossa libido para os objetos. O momento em que nos reconhecemos no olhar de nossos pais, que projetam sobre nós o seu próprio narcisismo renascido. Surge o menininho bonitinho da mamãe ou a queridinha do papai.
O narcisismo patológico se manifesta quando crescemos centrados no próprio umbigo.
Acreditando que o mundo nos acha o máximo e que todos os demais são apenas coadjuvantes da nossa existência maravilhosa, fazemos das pessoas objetos de nossos próprios interesses. Não as reconhecemos como o outro de verdade, mas o outro de conveniência, extensão do próprio umbigo!
Sir Galahad nos dá uma lição sobre o exercício da alteridade:
– Minha querida princesa! Só agora me dou conta de quão terrível é o fardo que sua doce, formosa e generosa pessoa se vê obrigada a carregar!
– Seria injusto se eu tomasse para mim tal decisão, posto que somente você, doce princesa, poderia saber em qual condição seu alívio seria maior e seu sofrimento menos cruel…
Puf !!! Novamente aparece a nuvem multicolorida e a maldição se desfaz por completo!
O pântano volta a ser um lindo lago, a floresta de espinhos um lindo bosque florido, o castelo reluzente em seu esplendor de outrora pronto para celebrar o casamento da princesa com o nobre cavaleiro!
E agora você aprendeu! Se quiser transformar sua princesa numa bruxa é só tratá-la como extensão do próprio umbigo.
Este feitiço nunca falha!
Carlos Alberto de O. Carvalho
Para baixar a coletânea com todos artigos sobre o Narcisismo, clique aqui.Aqui, o tema anterior: O Tédio.Todas as ilustrações são do Eduardo Medeiros.
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