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Pipoca gourmet traz a tona o que nossa sociedade tem de pior.

A pipoca gourmet traz a tona o que nossa sociedade tem de pior: a constante corrida por privilégios individualistas.

Em tempos de economia de comunhão e capitalismo consciente, é surpreendente que ainda surjam empresas e negócios inseridos na antiga lógica dos bens de consumo, onde o ter se sobrepõe ao ser, e o status é o principal valor agregado do produto, contribuindo assim, sem dúvida, para a manutenção da grande desigualdade social que assola o país. Alias, é justamente por causa desse fator – desigualdade social – que este tipo de produto costuma dar certo em países em desenvolvimento, como nosso Brasil.

A lógica estratégica deles é criar algo acessível apenas a uma parcela da população (ou seja, inacessível para a maioria), geralmente empregando alto valor simbólico e vendendo a imagem de exclusividade, baseando-se no ultrapassado paradigma da escassez. Desta maneira ocorre a manutenção dos privilégios de poucos em detrimento do acesso de muitos. Isso prejudica não somente nossa cultura, no sentido de que contribui para antigas e nocivas práticas mercadológicas, como também acentua a desigualdade social, agravando os quadros de violência urbana motivadas pelo consumo.

Imagem retirada da internet (infelizmente desconheço o autor).

Em maio de 2015 morria um médico esfaqueado na Zona Sul do Rio de Janeiro durante um assalto. Uma bicicleta teria motivado este crime brutal pelo bandidos, dois adolescentes. Uma vida em troca de uma bicicleta. E este é apenas um caso chocante e, infelizmente, cotidiano do que estou chamando aqui de “violência urbana motivada pelo consumo”. Porém, é lógico, mas faço questão de deixar claro, que sei que o consumo não é o único motivador deste e de outros crimes que assistimos/sofremos todos os dias. Mas, sem dúvida, o consumo “gourmetizado” é sim um forte agravador.

A pipoca gourmet traz a tona o que nossa sociedade tem de pior: a constante corrida por privilégios individualistas. Outro dia estava andando pela rua e vi uma “boutique de frutas”, que imaginei ser uma prima da pipoca gourmet. Antes, alimentos democráticos que todo mundo poderia ter acesso, agora colocados atrás de vitrines que somente VIPs podem ter acesso. Até quando?

Apenas a título de curiosidade, certa marca de pipoca gourmet custa em torno de 50 reais por 150 gramas, e a mesma quantidade em um pipoqueiro no Centro da Cidade custa em torno de 5 reais. E com apenas 3 reais é possível comprar um pacote de 500 gramas de milho no mercado. Sim, eu sei que esta comparação não pode ser feita devido aos diferentes processos industriais e de manufatura dos produtos citados, mas gostaria de deixar aqui este registro.

A relação social e afetiva que temos com a pipoca faz parte do inconsciente coletivo do brasileiro. Desde pequenos curtimos momentos em família ou com amigos, sempre acompanhados de guaraná e um filme, seja no sofá de casa ou, as vezes, no cinema. Uma experiência que nasceu para ser compartilhada tem por vocação unir as pessoas e não criar mais segregação.

Negócios deste tipo estão tomando a contramão de um mundo que quer democratizar e humanizar as relações empresa-humano e, por que não, humano-humano. Na era da empatia, queremos ver florescer mais árvores frutíferas pela cidade, mais pipoqueiros de esquina e mais bicicletas compartilhadas.

Updater: Alan Bruno

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