Porque os botões do telefone são como são

O coisês é a língua das coisas.

Você olha para um botão na parede e ele fala: “vai, me aperta”.Até um bebê, quando vê um botão desses, aperta. Mas a luz não é óbvia, pelo menos não na primeira vez. É preciso clicar e desclicar algumas vezes para associar uma coisa com outra.

O clip de papel. Apesar de genial e elegantíssimo na funcionalidade, não tem um coisês eloquente. Uma criança faria várias outras coisas com ele antes de achar que serve para manter papéis juntos.

E assim funcionam as coisas. Vamos usando, nossos cérebros entendem para que servem,  e um dia nem lembramos mais que já tivemos que falar coisês com aquele objeto. O coisês, no fim,  é mais ou menos como uma apresentação entre futuros amigos. Depois que ganhamos intimidade o papo flui.

Com o botão da luz conversamos por um instante.

Com um piano ou uma raquete de tênis a conversa é um pouco mais longa.

Com um controle da TV, é papo que não acaba mais.

Em inglês tem o verbo “to master” (something), que explica bem essa relação. Viramos o mestre daquela coisa. Hendrix e a guitarra. Neymar e a bola. Dominou, calou. Nem precisa conversar pra se entender. Essa é a regra do coisês.

Portanto, quando uma pessoa inventa um objeto, a última coisa que ela quer é um objeto tagarela.

Raciocínio introduzido, vamos ao protagonista do post.

OS BOTÕES DO TELEFONE

O telefone, por exemplo.Quando foi inventado, era muito tagarela.

howtophone

HOW TO USE THE TELEPHONE (1927)

Além da novidade de falar com alguém que não estava no mesmo lugar que você, o coisês daquele disco rotatório não era mesmo dos melhores. E por isso foi substituído, anos depois, por botões.

Hoje, depois de tantas ligações, a gente até digita sem olhar. Mas na época da transição entre essas interfaces, a Bell Labs investiu tempo e dinheiro para pesquisar o que nos parece uma obviedade: a posição das teclas e a ordem dos números.

Nem conseguimos imaginar outra opção que não seja o grid 3×3, de 1 a 0, da esquerda para a direita.Mas outras possibilidades foram cogitadas: teclas em posição circular para facilitar a transição e a curva de aprendizado,  números decrescentes como nas calculadoras, etc.

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O video abaixo explica como foi essa época. Registros de um momento especial na história do design.

Bom, pra acabar, aproveite e use o comentário como uma oportunidade de experimentar esse conceito na prática.  Nosso imortal teclado qwerty, com quem constantemente ainda conversamos.

Para quem não sabe, as teclas dos teclados que usamos não precisavam mais ser tão caóticas assim há pelo menos uns 20 anos. Foram organizadas assim justamente para desacelerar ao máximo a datilografia, porque os bracinhos das máquinas de escrever emperravam se alguém escrevesse muito rápido.

Então, ao invés de consertar a máquina, preferiram  quebrar o datilógrafo.

E fizaram um coisês ruim, de propósito. Mas como já nos acostumamos, ele continua be m aí na sua frente, pronto pra conversar.

Vai inventar o próximo teclado? Um site? Um app? Então olha lá hein? Sem tagarelice na interface. UI! :)

“QUEM FALA MUITO DIZ POUCO, QUEM FALA POUCO DIZ MUITO” (ditado popular dúbio, mas bom pra fixar meu ponto)

Wfrgjup?

[via]

Updater: Wagner Brenner

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