Sobre tatuagem e preconceito

Por pensar diferente, por ter uma crença, por ser de uma etnia X . Como se já não bastasse à vida em si e seu ciclo de karmas sem fim.

Apedrejasse antes mesmo de saber o nome do alvo. Na verdade se taca pedra por tacar, porque nem se dá o trabalho de raciocinar o do porquê daquilo.

Muitas vezes a desculpa é a do diferente. Desculpa essa que é a mais escrota e incabível possível, pra dizer o mínimo, no cenário atual. Ou não, já que quem compõe o cenário atual somos nós. “Nós” que antes de coletivo nem sabemos funcionar como unidade.

Falam muito sobre como as coisas mudaram com o advento da internet, mas nem foi tanto assim. Pra mim a rede só deixou tudo exposto. Coisas boas e ruins que desde sempre existiram só tomaram uma proporção maior pela proximidade que a internet propicia. E o preconceito descabido é uma dessas coisas ruins.

Cada um à sua maneira sofre preconceitos diários. Na escola, no trabalho, no circulo de “amigos”, até na família. Muitas vezes esses comentários são disfarçados através de piadas “amigáveis”. Outras, através de “criticas construtivas, pro seu próprio bem”. Isso quando a sua diferença pros demais é opcional como ser tatuado, ter um piercing ou trabalhar em algo que não é tão ortodoxo.

Mas e quando você junta isso ao pacote que já vem de fábrica: ser negro, ser pobre, ter alguma deficiência. Só pra começar a citar algumas coisas. Eu mesmo vim de fábrica com algumas dessas “diferenças” – só pra constar, tudo e todos pra mim são iguais e não devem nada pra ninguém.

Não, não estou me fazendo de coitadinho. Odeio essa mania do brasileiro de ser vitima sempre. Muita coisa acontece na vida de muitas pessoas, você escolhe como reagir a elas. Cito isso porque são fatos e sofri preconceito por eles. Não porque quero empatia ou uma justificativa pra tudo que deu de errado na minha vida.

Não que interesse, mas minha vida no geral é muito boa. Sou casado com uma mulher que sempre me apoia, tenho um filho lindo e saudável e minha família nunca baixa a cabeça ante os percalços. Eu podia ter mais grana? Sim. Uma carreira estável? Também. Mas somos felizes como estamos e vamos sempre fluir para uma felicidade cada vez maior.

O texto acabou perdendo um pouco o foco – desculpem rs. Mas acho que é inevitável. Esse tipo de assunto engloba muita coisa e acaba servindo pra todos os leitores que já sofreram com qualquer tipo de preconceito.

Eu já tive esses momentos infelizes na minha vida – e de muito aprendizado, diga-se de passagem. E alguns foram envolvendo as minhas tattoos.

A tatuagem pra mim não é só um adorno, não é só estética. Não só isso. Ela me aproximou de pessoas que são muito importantes pra mim hoje. Ela externa e torna evidente pra outras pessoas com quem elas estão lidando. Cada novo desenho no corpo aparece antes mesmo da agulha tocar a pele. Ele vive em você, só esta esperando o momento certo pra emergir. A tatuagem é uma tradução gráfica de você.

Brasileiro, asiático, branco, pobre, negro, mecânico, professor, diarista, médico, CEO, europeu, hetero ou homo. Parem de se preocupar com esse tipo de coisa. Há tanto que podemos fazer pelo mundo se mudarmos nosso foco e deixarmos cada um cuidar da própria vida.

Cada unidade deve se encontrar e ser feliz, pra então podermos formar um coletivo forte e estável. Resolva suas questões pra dai você partir pro mundo e poder ajuda-lo.

Sou negro, sou tatuado, barbudo e escritor. O preconceito que você tem é com você não comigo. Eu não tenho que lidar com problemas que você tem em sua cabeça, com coisas que você imagina ou deduz sobre mim. Eu já tenho os meus próprios problemas. Eu não te conheço ainda e você também não me conhece, então porque não sentamos tomamos um café e descobrimos o que cada um tem incrível pra acrescentar a vida do outro?

Somos todos papéis em branco nas mãos de crianças. Então deixem que elas rabisquem e nos mostrem sempre algo novo e maravilhoso sobre nós. Não entregue os papeis para as impressoras e peça milhões de cópias.

Updater: Do Leitor