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The Other One: A incrível trajetória de Bob Weir.


(por Gabriel Affatato)
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Saiu há pouco na Netflix um documentário intitulado “The Other One”, que retrata a vida e a trajetória de Bob Weir, co-fundador da banda Greateful Dead junto com Jerri Garcia. A obra foi lançada este ano e foi dirigida por Mike Fleiss, durando pouco mais que uma hora e meia. É dinâmico e embalado pela trilha sonora da banda do início ao fim. Nunca se limita a assuntos pontuais dando sempre um panorama histórico muito bom e, sem dúvida, é uma excitante viagem assisti-lo do início ao fim, embarcando nas aventuras existências do músico, que se mostra como uma fascinante referencia de artista e de pessoa, sendo um misto de arquétipos de rebeldia, de genialidade, de sensibilidade e de liberdade, no caso, um genuíno espírito beat.

Garcia normalmente é visto como o ícone máximo do Dead (até com muita naturalidade, afinal, era um artista pra lá de icônico). Porém é interessante ver o quanto Bob é fundamental para a trajetória da banda, justamente, sendo “secundário”, uma vez como o guitarrista base e conseguindo ser inovador tendo por função apenas o acompanhamento dos geniais solos de Garcia que só se saiam virtuosos por conta da maestria com que ele engendrava os acordes. Para além de artista completo, Bob sintetiza muitos elementos da vida hippie, sendo um grande ícone de contracultura. O documentário aprofunda no amplo universo do músico e de como o mesmo via a vida.

Já aos 16 largara a escola para ingressar na vida musical. Filho adotivo, revoltado com um mundo que não lhe compreendia, mergulhou de vez na busca implacável pelo prazer a partir daquilo que mais fazia sentido na sua vida: a música. Sendo virtuoso e proativo, logo ingressara em diferentes bandas e, junto com Jerry Garcia, fundou o Grateful Dead, talvez a banda mais hippie da história americana. Justamente por estar no epicentro de tudo que rolava no romântico São Francisco da virada da década de 60 para 70 a banda se sintonizou profundamente nos valores e nos elementos do universo libertário e psicodélico. Nenhum integrante da banda abdicava de fazer parte do imaginário em questão.
Por volta dos 18 anos Bob ingressou em uma caravana regada a orgias e LSD. Uma emocionante aventura guiada por um ônibus velho, repleto de hippies e dirigido por nada mais nada menos do que Neal Cassady! O imortal protagonista Dean Moriaty de On The Road. Inclusive a conexão entre os dois é explorada de forma cativante pelo filme. Bob colocou Neal como um de seus principais mentores inclusive dizendo que o mesmo havia lhe incentivado a começar a compor. Uma das suas primeiras obras, “The Other One” (uma das sugestivas razões para o título do documentário), segundo o músico, fora gravada na noite em que Neal morrera.

A sua rebeldia natural era um elemento que transitava por sua ideologia e desembocava diretamente em sua música. Bob era um instrumentista original, que pulava de gênero em gênero, renegando rótulos e formulando progressões de características psicodélicas e ao mesmo tempo espontâneas, possuindo um espírito jazzista. Antes de tudo, um grande defensor das improvisações, tendo ajudado a música dessa virada de gerações a mergulhar afundo na busca por experimentações e variações sonoras, sendo assim um artista de vanguarda ousado. Em uma mesma música ele foi capaz de dar cerca de 10 variações para o mesmo acorde de Mi, ondulando sonoridades e dando um toque difuso à estrutura que jamais seria a mesma sem a capacidade que ele tinha em criar arranjos e acompanhamentos expressivos.
Para além do mítico Jerry, estava em Bob os elementos essenciais da rebeldia musical e artística do Grateful Dead que por décadas arrastou uma legião de fiéis fãs que valorizavam o indiscutível fato de que cada show da banda era uma joia única e rara, justamente por conta da liberdade de total falta de organização dos integrantes em relação ao repertório e ao estilo a ser tocado. Todos esses aspectos muito bem ilustrados em um documentário que analisa a vida pessoal do músico também interpretado como uma personalidade de espírito livre. Desde sua infância imperativa, quando derrubou um martelo na cabeça de um amigo de pré-escola, ao seu amadurecimento após a morte de Garcia, procurando contato com seu pai biológico, Bob representa a essência do simples viver a partir dos desejos mais primitivos, evocando os elementos humanos mais primordiais e, em meio a simples busca pela alegria, sintetizando os pilares mais estruturais da contracultura.
Confira o trailer do documentário:
Updater: Do Leitor
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