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Um anuário que pede menos bundões na publicidade

O Anuário do Clube de Criação é uma das principais referências dos trabalhos de destaque da publicidade brasileira desde muito antes da gente poder dar um Google em alguma campanha ou seguir o Instagram das agências gringas. Na sua 42ª edição, ele é editado desde 1975 e funciona também como “registro, memória e fonte de consulta da propaganda nacional”, como destaca o presidente da entidade, Fernando Nobre.

E uma das partes mais bacanas, além dos cases e peças, é que cada edição traz um diretor de arte convidado para desenvolver o conceito e o projeto do livro, num trabalho personalizado. Já assinaram edições nomes históricos e referências como Helga Miethke, Roberto Cipolla, Marcello Serpa, Thomás Lorente, Pedro Cappeletti, Julio Andery, Valdir Bianchi, Erh Ray, Luiz Sanches, Marcão Medeiros e tantos outros.

Este ano, o responsável foi André Gola, diretor de criação da AlmapBBDO e profissional com um trabalho artístico autoral de destaque internacional. Unindo seu traço característico (vale muito conhecer pelo @andregola no Instagram, entre outras fontes) e uma válida provocação à falta de coragem para arriscar e fazer algo diferente na propaganda, ele desenvolveu o conceito “Bundões”, estampado já na capa do livro, mostrando a que veio.

“O tema é, sim, provocativo. E foi criado propositadamente para gerar uma primeira impressão que não te deixa neutro. Vendo a comunicação hoje, acho que temos que arriscar um pouco mais. A internet, a crise, tudo isso aumenta a insegurança na hora de fazer algo diferente e nos deixa mais ‘bundões’. Vamos arriscar um pouco mais? Os trabalhos estampados nas páginas do Anuário mostram que dá certo”, enfatiza Gola.

O livro foi feito em tempo recorde – seis meses, quando geralmente dura quase um ano – e traz diversas e diferentes bundas com as interferências artísticas de Gola, que, como um moleque travesso de caneta na mão numa sala de espera, intervém e ressignifica imagens das revistas de fofoca. Como o Clube é uma entidade sem fins lucrativos, o trabalho é sempre feito na raça. Então, Gola convidou o premiado fotógrafo Gustavo Zylbersztajn para garantir os cliques glúteos, aproveitando que ambos trabalharam juntos no início da carreira, ainda desconhecidos. “Nada como ter amigos e voltar às origens para fazer algo colaborativo e com tesão. Foi um prazer enorme”, destaca o artista.

Gola garante que os modelos são desconhecidos e voluntários, num cast no mínimo divertido de fazer. Mas como a gente sabe que no Brasil, pra fazer algo artístico acontecer – e ainda mais sem verba –, o que a gente mais faz é ter que botar a própria bunda em jogo, não duvido que tenha, entre tantas ali, algumas nádegas de amigos publicitários no meio das páginas. Você reconhece alguma? :)

*Nota do escriba: se a história do Anuário te despertou algum interesse, o Clube de Criação digitalizou, há dois anos, o primeiríssimo livro publicado, de 1975. O projeto é o único assinado por vários diretores de arte, ao invés de um só (alguns depois foram feitos em duplas). Vale ver, nos textos de abertura, grafismos e imagens de júri, que muita coisa mudou (especialmente roupa e cabelo de publicitário). Mas é incrível como mais de 40 anos depois, muita coisa também continua exatamente igual.

Updater: Karan Novas

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