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Um papo com Paulo Lima sobre o Trip Transformadores

Batemos um papo com Paulo Lima, publisher/fundador/editor da Trip Editora, sobre o Prêmio Trip Transformadores.
Qual é o principal objetivo do Trip Transformadores?
Bom, essa iniciativa surgiu quando a gente estava pensando em comocomemorar os 20 anos da Trip, portanto, já faz 13 anos. E aí a gente pensou emvárias ideias, coisas que a gente já tinha feito várias vezes: festas, eventos,shows, trazer artistas para fazer show de música e tudo mais, mas achamos queaquilo tudo era muito sem graça e muito aquém do que a comemoração de 20 anosde uma empresa de economia criativa, de cultura, de jornalismo independentemerecia.
Então a gente começou a tentar pensar em coisas diferentes. E aíveio essa ideia, que não era exatamente original, já que prêmio ligado àrevista existe há séculos. Mas acho que a grande sacada foi olhar pra fora,sabe? Em vez de olhar para o próprio umbigo, de olhar para a gente mesmo epremiar, sei lá, as pessoas mais bacanas, os melhores clientes, os melhoresartistas e as pessoas que venderam mais discos, ou que fizeram mais shows, agente resolveu olhar para dentro da gente e olhar para as nossas causas, paraos nossos princípios e valores e olhar para aquilo e tentar enxergar fora daTrip quem eram as pessoas que já tinham enxergado e que defendiam esses mesmovalores muito antes da gente, inclusive.
Então desde 2005 que a Trip publica uma espécie de lista deprincípios dela, na própria revista Trip, todo mês. Então a gente olhou praisso e falou assim: “Bom, deixa eu ver quem entendeu que a melhor coisa domundo é conseguir diminuir o sofrimento do outro”. E aí a gente logopensou em um outro valor que é muito importante para a Trip, que é a diversidade.
A diversidade é muito importante e está presente na Trip desde antesde ela existir, no grupo. Esse interesse mesmo, genuíno, pelo diferente, pelooutro. Então a gente procurou gente de todos os tipos, de todos as idades eprocedências e ramos de atuação, mas que tivessem em comum isso: essa ideia deenxergar o outro. Que entende que o outro é um pedaço de você e que se nãotiver bom para o outro, não vai estar bom para ninguém. E aí a gente foi atrásdesde banqueiros que descobriram a importância e o prazer de se investir emeducação, até gente que literalmente morava debaixo da ponte, mas que tinha umprojeto para ajudar dependente químico – o caso do Garrido, que foi um dospremiados ao longo desses anos.
Então, essa que é a gênese, essa é a ideia: mostrar para o mundoquais são os nossos valores, em que a gente acredita, mas não valorizando agente mesmo, e sim homenageando essas pessoas que em geral têm muito poucavisibilidade, muito pouco espaço na mídia. Na época em que a gente começou, issoera quase inexistente. Hoje já tem vários espaços dedicados a esses“altruístas”, digamos. Hoje a mídia já entendeu e já tem aberto espaços, masainda é muito pouco. Eu acho que essas pessoas ainda ficam debaixo de camadas ecamadas de celebridades, de influenciadores, de Neymares e etc., enquanto essestrabalhos fundamentais acabam sendo pouco vistos.
Então a intenção do Trip Transformadores é honrar, homenagear eentregar o que a gente tem de melhor, que é a capacidade de dar visibilidade,de dar aval. De avalizar, de assinar embaixo o trabalho o trabalho dessescaras, o que chama atenção da mídia, chama atenção de patrocinadores, deempresários e tal, e muitas vezes muda a história do premiado. Tem muitoshomenageados lá cuja a história mudou depois do prêmio. A gente fica muitohonrado com isso.

Como foi a modificaçãodesse projeto nos últimos anos?
Olha, eu acho que a essência dele não se alterou. A gente continuaprocurando a diversidade e procurando essas pessoas que entenderam que quantomais você puder colocar sua energia em favor do todo, do grupo, olhar o mundovisto do alto, enxergar essa coisa da interdependência entre todos nós, todosos seres vivos, até a natureza e tudo mais, isso continua lá. Claro que a gente foi aperfeiçoando muito,desde as técnicas de produção, de pesquisa desses nomes…
Hoje a gente tem um núcleo incrível de pesquisa, um arquivoinclusive, desses tipos de profissionais, de pessoas, de figuras. E volta emeia é consultado por outras empresas. Agente hoje em dia tem feito até trabalhos nessa área. A gente está trabalhandoagora, por exemplo, com o Instituto Bem Maior, que é aquela organização do ElieHorn e outros empresários, voltada para fomentar pequenas iniciativasfilantrópicas, altruístas e tudo mais. A gente tem feito trabalhos nessa áreaporque a gente se tornou mesmo uma referência, modéstia à parte, de gente quesabe fazer essa curadoria de figuras especiais que estão aí, mudando o país,mudando a sociedade, as suas comunidades e mudando o mundo.
Então, acho que o que mudou basicamente foi a parte de produção, deprocessos. A gente aprendeu muito a fazer esse evento, que na verdade não é umevento. A cerimônia de premiação propriamente dita é só uma parte. Uma parteimportantíssima, lógico, é como se fosse o clímax do projeto, mas ela é só umaparte. A gente começa com muito trabalho nas redes sociais, divulgando osvencedores, o que eles fazem. A gente faz um documentário sobre cada um deles,são dez minidocumentários feitos todo ano. E esse material muitas vezes é oúnico material que esses caras têm para divulgar. A gente faz outros doiseventos que antecedem a noite de premiação. Um geralmente mais popular, aberto,que tem sido, nos últimos anos, grandes shows de música em parques. Chegamos afazer show para 20 mil pessoas. Sempre usando esse apelo da música para falardesses valores e para falar dos homenageados, principalmente. Para mostrá-los eexibi-los e apresentá-los. E tem um outro evento também, que costuma ser oprimeiro da série, que é com um objetivo de refletir sobre essas causas e sobreessas ações, para que através da reflexão, do conteúdo que depois é espalhadopelo digital, pelo impresso, programa de rádio, por todos os meios que a gentetem. E assim a gente possa gerar reflexão sobre o que vale a pena mesmo navida, repensar as coisas que a gente considera importantes. Essa é a intençãotambém de todo o projeto do Trip Transformadores.
Qual é a importância paraas marcas em participar da ação?
Eu sou suspeito, né? Mas acho que as marcas conseguem não só ter assuas imagens atreladas a gente muito incrível (é quase impossível você assistiruma cerimônia do Trip Transformadores e não sair totalmente tocado; muitasvezes até abalado). Então as marcas que estão lá ganham uma nobreza; de certamaneira, elas transferem para si mesmas uma parte da nobreza desseshomenageados. Mas mais do que isso, elas ganham cultura sobre esse assunto. Agente já viu coisas incríveis acontecerem com os patrocinadores. Ospatrocinadores começarem a interagir com os homenageados e criarem projetosnovos. Isso aconteceu várias vezes. Por exemplo, o presidente de empresa demontadora de automóvel ir visitar um dos homenageados numa favela no Rio deJaneiro. Sabe, as coisas são mágicas ali. Então as marcas ganham não só na partemais evidente, que é essa exposição num ambiente muito bacana, muito nobre,muito prestigiado, mas também, e principalmente, elas aprendem a rever seusvalores, suas crenças e tudo mais, torná-las mais contemporâneas, inclusive.Tem muita empresa que não está entendendo as mudanças do mundo, não estáconseguindo pescar o que está acontecendo. Eu acho que esse evento dá umachacoalhada em todo mundo, em nós mesmos, nos homenageados e também nospatrocinadores, o que é muito saudável. Costumamos ter patrocinadores que ficampor muitos anos conosco. O Boticário deve estar há mais de nove anos, porexemplo. Além de vários outros, como a AlmapBBDO. Eu acho que a Almap estádesde o segundo ano com a gente. As pessoas pensam que é uma permuta, que elesdão anúncio, mas não é nada disso. Eles pagam todo ano um valor para estar lácom a gente, para apoiar a iniciativa para que ela continue acontecendo. A GOLLinhas Aéreas Inteligentes também é um dos vários patrocinadores que estão coma gente há muitos anos. É muito legal, as marcas gostam, tem benefícios, e elasse tornam mais contemporâneas, como eu falei. Conseguem entender melhor asmudanças do mundo e o que as pessoas estão pensando de verdade.
Quais ativações foramrealizadas para promover o projeto? Existem métodos específicos para atingirempresas específicas?
Olha, temos sim uma série de coisas. Por exemplo, anunciamos emrádios que são ouvidas por decisores , como a Eldorado, que é uma rádioparceira nossa. Fazemos o trabalho de divulgação do prêmio com ela. Temos umtrabalho de corpo a corpo muito sério, vamos pessoalmente em algumas empresas eagências para explicar o projeto. Temos o digital, nossas redes sociais sãomuito fortes, o próprio Trip Transformadores tem suas redes, inclusive. A Tripe a Tpm têm hoje milhões de pessoas conectadas a elas. Então tem uma série decoisas que fazemos. Mas eu acho que o mais forte mesmo é que as pessoas vão aoevento e sentem uma vibração que é muito diferente de qualquer evento que vocêvá, de lançamento de produtos, de ações de marketing, sabe. Ele não tem nada aver com essa coisa de compra e venda, está totalmente fora dessa coisa deconsumo, tem a ver com outros departamentos da nossa existência. Acho que éisso que comove e move as pessoas, inclusive os patrocinadores. É bem frequenteque um empresário ou algum decisor vá umevento e saia de lá e procure a gente, querendo estar junto. Isso é muito legal. Acho que a melhorestratégia é essa.
Como uma marca podeparticipar do Trip Transformadores?
Ela pode participar de várias maneiras. O interessante é que a gentecria trabalhos. Uma das coisas mais legais desse projeto é que ele cria umambiente em que faz sentido as marcas falarem das suas ações. Tem muita marcaque faz um monte de coisas bacanas, sob o ponto de vista social e ambiental,mas tem um pouco de vergonha de falar, não encontra o lugar em que isso nãopareça uma autopromoção. E esse ambiente do Trip Transformadores écompletamente perfeito para isso. Uma marcadizer: “Olha, eu estou fazendo isso, eu acredito nessas causas, eu queroestar nesse clube, eu faço parte disso aqui. Olha o que eu estou fazendo, olhacomo eu trato meus clientes e meus colaboradores, as pessoas que estão em voltada minha empresa”. É um ambientemuito legal. Não vendemos placas no evento, vendemos a interação dessas marcasno evento, o que é muito forte. Criamos conteúdos para elas, vídeos, asajudamos a contar histórias e expressar como enxergam o mundo de umaperspectiva que não seja só mercantil, do tipo “veja o que eu tenho paravender”, mas de uma perspectiva de estar junto, de fazer parte desse barcoe de levá-lo para um lugar melhor. Assim, as marcas que pensam e sentem issoencontram um ambiente muito legal, e não só pelo acolhimento, mas também pelofato de que a gente sabe fazer conteúdo para marcas, né? A gente faz isso hámuito tempo, e as ajudamos a participar desse projeto da forma mais encaixada epertinente possível. Vira uma relação legal e que muitas vezes dura décadas,como já mencionei alguns exemplos. Teria até outros para citar, aliás, queestão com a gente desde o começo e não abrem mão . O presidente fundador d’OBoticário disse uma vez no palco, que enquanto ele estiver à frente da empresa,ela vai continuar nesse projeto. Felizmente, isso acontece e tem acontecido.Ele falou isso há muitos anos, e eles continuam lá. E é uma honra para nós terO Boticário com a gente.
A Trip planeja outrosprojetos com o mesmo objetivo?
Sim, temos alguns projetos, uns que eu não posso contar, que são sacadas ligadas ao mundo coorporativo. Outras que já estão aí, como a Casa Tpm, que de alguma maneira tem o mesmo tronco; ela é um outro braço do mesmo tronco. A Casa Tpm tem como objetivo pensar, melhorar o mundo e juntar as pessoas que pensam dessa forma, mas com um ângulo direcionado para a relação do mundo, do Brasil, em especial com as mulheres; a forma que a sociedade brasileira lida com as mulheres. Esse é um projeto bacana, muito vencedor, já são oito anos de Casa Tpm. Agora, está dando tão certo que a gente passou a fazer duas vezes por ano, em vez de uma só. Antes acontecia só no inverno, no meio do ano. E agora estamos fazendo uma edição de verão, como a que rolou agora no Theatro Municipal. Foi demais, foi lindo, dois dias no Theatro Municipal no primeiro semestre. A data da segunda edição ainda vai ser divulgada. Dobramos a potência da Casa Tpm porque ela dá muito certo, atrai muitas marcas bacanas e tem um processo de ativação incrível. São dois dias muito gostosos, muito densos, muito ricos. Este ano tivemos Fabio Porchat e um monte de gente bacana, famosas ou não, discutindo com profundidade e, ao mesmo tempo, com leveza as questões do universo feminino que hoje estão sendo tão faladas, mas que eram basicamente ignoradas na época em que começamos a tratar delas.
Qualé o impacto do Transformadores na Trip como empresa e como produtora deconteúdo?
Olha, sem querer fazer ufanismos, mas achoque o impacto do Trip Transformadores na Trip vai além da empresa e daprodutora de conteúdo. Ele impacta muito fortemente as pessoas que trabalhamlá, a vida da gente. Esse é o efeito mais importante. Essa história dopropósito, que hoje está amplamente presente nas discussões, na literatura e nojornalismo sobre gestão e sobre mundo do trabalho das empresas, já virou até umcerto cliché. O fato fundamental é que, nos dias de hoje, do jeito que o mundoestá, se você não tiver no trabalho algo além de uma forma de sobrevivência,não faz o menor sentido pensar na ideia de apenas trocar tempo de vida pordinheiro – isso pelo menos para quem tem um pouco mais de acesso e privilégios,que é o nosso caso.Na verdade, não deveria fazer sentido para ninguém, mas comoestamos em um país em que dezenas de milhões de pessoas não têm nada do básico,de alimentação e moradia, é meio complicado falar sobre propósito e tal. Mas ofato é que deveria ser assim para todo mundo. E é daí que vem o tagline,o mote do Transformadores, de que“só vai ficar com de verdade quando estiver bom para todo mundo” – e é isso quenos alimenta muito, nos fortalece para correr atrás desse projeto há 13 anos. Éum projeto extremamente sofisticado, trabalhoso, difícil de fazer, movimentacentenas de pessoas –milhares, na verdade. E todo ano tem sido uma enormesatisfação e um êxito também, né. Temos conseguido grandes apoiadores eempresas se associando desde a primeira edição, é muito legal. Esse ano os principaispatrocinadores são a IBM e O Boticário (que já está com a gente há mais de dezanos), além de mais uns oito apoiadores de peso, com cotas importantes, enfim.Então é um negócio da maior importância, por esse sentido maior, de fortalecera ideia de que a Trip não está ai só para entreter as pessoas, só paradistrair, nem mesmo para apenas produzir cultura, mas também para tentar elevarum pouco a régua do país, uma régua que está tão pressionada para baixo nosúltimos muitos anos. É fundamental para nós como negócio, como estratégia deposicionamento, como produção de conteúdo, como geração de receita, mas, maisdo que tudo, como contribuição para a sociedade.
Paravocê, qual é o futuro dessa iniciativa como modelo de negócio e para opaís?
Como modelo de negócio, temos algumasideias de colocar isso em escala, fazer mais edições em outros lugares, em ummodelo mais descentralizado;há projetos nesse sentido, são coisas em queestamos pensando. Todo ano a gente tenta de alguma maneira surpreender, sejacom as atrações musicais ou pela própria curadoria dos premiados, seja com oevento principal ou com os eventos que antecedem o evento principal… Comoagora, que vai ter o show em homenagem o Jorge Ben só com cantoras, gente muitofera:Luedji Luna, Zezé Motta, Mariana Aydar, um monte de gente legal. Um showde graça em um parque da cidade, para muita gente…enfim, vamos sempre tentandomelhorar. Mas, como modelo de negócio, eu diria que nosso principal desejo,nosso principal projeto,por assim dizer, é tornar o Trip Transformadores umacoisa meio multiplicável, um modelo descentralizado. É algo que ainda estamosdesenvolvendo,que depende de bastante trabalho, da criação de uma metodologia etudo, mas é um pouco do que a gente está pensando. E isso, para o país,é cadavez mais fundamental, infelizmente.Como eu falei uma vez em um discurso deabertura do Transformadores, o ideal seria que uma premiação como essa setornasse desnecessária, porque fundamentalmente homenageiam-se pessoas que sãodiferentes justamente porque pensam no outro. O ideal é que essas pessoas quepensam no outro, que pensam mais nos outros do que em si mesmas, não fossem umaexceção digna de homenagens, mas que isso fosse algo comum. Mas, infelizmente,o que está acontecendo é o contrário. O país está, em vários sentidos, andandopara trás, no sentido de civilidade mesmo, de evolução como sociedade em váriosplanos. Então, nesse momento,é ainda mais importante valorizas as pessoas quenão se deixam arrastar por essa maré de ignorância e negatividade que assola opaís há muitos anos.E não estou falando só da gestão atual, estou falando dedécadas e décadas de distribuição de renda lamentável, de gestões ineptas,paradizer o mínimo, enfim…desvalorização da cultura e tudo mais. Por isso, é cadavez mais importante que existam iniciativas como essa, não só o próprio TripTransformadores, mas iniciativas que lutem no sentido contrário da mediocridade.
Oque inspira você a continuar produzindo o evento?
Olha, exatamente todas essas coisas que falei. Quanto mais o país sofre e se mostra incapaz de resolver suas questões fundamentais, mais ficamos motivados a batalhar, para somar e tentar criar algumas referências, cultuar algumas referências: de pessoas, de comportamentos, de instituições que estão na mão contrária do retrocesso. É isso que nos inspira a continuar essa batalha. Como falei, é um projeto bastante ambicioso, cheio de detalhes. A gente trabalha o ano inteiro para que ele aconteça, além dos eventos que antecedem a cerimônia e os conteúdos que são veiculados ao longo do ano, fundamentalmente para promover a divulgação das pessoas que são homenageadas e daquilo que elas fazem. É um negócio muito trabalhoso e complexo, pelo qual não deixamos de nos dedicar muito, de que gostamos e que nos inspira.Porque precisa, basicamente é isso. Se continua nos inspirando, significa que o Brasil, cada vez mais, precisa muito de referências.
O Update or Die é apoiador cultural e de mídia do Prêmio Trip Transformadores desde sempre.
Updater: Gustavo Giglio
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